quarta-feira, 16 de março de 2016

PALAVRA DE VIDA

Escravo do pecado... (Jo 8,31-42)
          Bem sei que este não costuma ser um tema “paroquial”. O tema do pecado é considerado antipático, fora de moda, em especial após a enxurrada freudiana que invadiu o pensamento e as consciências. Por isso mesmo, passa longe das homilias e sermões habituais. Até a palavra “pecado” costuma ser evitada, eufemisticamente substituída por “falhas” ou “fragilidades”. No entanto, se o pecado é ignorado, para que precisaríamos de um Salvador?

               Na verdade, a Igreja jamais se deteve no pecado como um desastre sem conserto. Ao contrário, a liturgia quase faz o elogio do pecado, ao cantar com Santo Agostinho: “Ó feliz culpa, que nos mereceu tão grande Salvador!” [O felix culpa, quæ talem ac tantum méruit habére Redemptórem!] Sem ter caído no pecado, jamais chegaríamos a conhecer a infinita misericórdia de Deus.
               Neste Evangelho, Jesus é categórico na solene afirmativa: “Aquele que faz o pecado torna-se seu escravo” (v. 34) No original grego, está o verbo “poiôn” [= faz]. O pecado é algo que se “faz”, uma obra do homem que se afasta do amor de Deus, seja por atos, palavras, pensamentos ou omissões. Como consequência, perde-se a liberdade para amar, e amar mais.
               Os confessores e conselheiros conhecem bem a situação do penitente ou consulente que, após algum tempo a repetir os mesmos pecados, vê estratificar-se em seu íntimo uma “segunda natureza” que passa, por conta própria, a decidir o destino da pessoa. O povo tem uma palavra para isto: vício. Uma situação em que se estabelece forte dependência (não só de drogas, álcool e tabaco, mas também do jogo, da masturbação, da gula, da prostituição, da maledicência, da indiferença etc.), a ponto de a faculdade volitiva ficar praticamente anulada. Experimenta-se visível escravidão.
               Na prática, é comum que o novo “escravo” tente sufocar a própria consciência. Muitos procuram justificativas intelectuais para sua conduta, ou tentam transferir a responsabilidade para outras pessoas [o conhecido bode expiatório], a situação familiar, as condições sociais, as estruturas econômicas. Fogem da Palavra de Deus, recusam conselhos de pais e amigos, afastam-se da Igreja. Tudo em vão.
               A consciência não se cala. E é exatamente o sentimento de culpa o mais destrutivo de todos os invasores do coração humano. É hora de ouvir a exortação do apóstolo Paulo aos Gálatas: “É para a liberdade que Cristo nos libertou. Ficai firmes e não vos deixeis amarrar de novo ao jugo da escravidão”. (Gl 5,1) Em tempo: “jugo” é a “canga” que prende o boi de carro pelo pescoço: tão forte e... tão escravo! Vai obedecer às ferroadas do carreiro...
Orai sem cessar: “O Senhor libertará o pobre que o invoca!” (Sl 72,12)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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