Escravo do pecado...
(Jo 8,31-42)
Bem sei que este não costuma ser um
tema “paroquial”. O tema do pecado é considerado antipático, fora de moda, em
especial após a enxurrada freudiana que invadiu o pensamento e as consciências.
Por isso mesmo, passa longe das homilias e sermões habituais. Até a palavra
“pecado” costuma ser evitada, eufemisticamente substituída por “falhas” ou
“fragilidades”. No entanto, se o pecado é ignorado, para que precisaríamos de
um Salvador?
Na
verdade, a Igreja jamais se deteve no pecado como um desastre sem conserto. Ao
contrário, a liturgia quase faz o elogio do pecado,
ao cantar com Santo Agostinho: “Ó feliz culpa, que nos mereceu tão grande
Salvador!” [O felix culpa, quæ talem ac
tantum méruit habére Redemptórem!]
Sem ter caído no pecado, jamais chegaríamos a conhecer a infinita misericórdia
de Deus.
Neste Evangelho, Jesus é categórico na solene
afirmativa: “Aquele que faz o pecado torna-se seu escravo” (v. 34) No original
grego, está o verbo “poiôn” [= faz].
O pecado é algo que se “faz”, uma obra do homem que se afasta do amor de Deus,
seja por atos, palavras, pensamentos ou omissões. Como consequência, perde-se a
liberdade para amar, e amar mais.
Os confessores e conselheiros conhecem bem a situação
do penitente ou consulente que, após algum tempo a repetir os mesmos pecados,
vê estratificar-se em seu íntimo uma “segunda natureza” que passa, por conta
própria, a decidir o destino da pessoa. O povo tem uma palavra para isto: vício. Uma situação em que se
estabelece forte dependência (não só de drogas, álcool e tabaco, mas também do
jogo, da masturbação, da gula, da prostituição, da maledicência, da indiferença
etc.), a ponto de a faculdade volitiva ficar praticamente anulada.
Experimenta-se visível escravidão.
Na prática, é comum que o novo
“escravo” tente sufocar a própria consciência. Muitos procuram justificativas
intelectuais para sua conduta, ou tentam transferir a responsabilidade para
outras pessoas [o conhecido bode expiatório], a situação familiar, as condições
sociais, as estruturas econômicas. Fogem da Palavra de Deus, recusam conselhos
de pais e amigos, afastam-se da Igreja. Tudo em vão.
A consciência não se cala. E é
exatamente o sentimento de culpa o mais destrutivo de todos os invasores do
coração humano. É hora de ouvir a exortação do apóstolo Paulo aos Gálatas: “É
para a liberdade que Cristo nos libertou. Ficai firmes e não vos deixeis
amarrar de novo ao jugo da escravidão”. (Gl 5,1) Em tempo: “jugo” é a “canga”
que prende o boi de carro pelo pescoço: tão forte e... tão escravo! Vai
obedecer às ferroadas do carreiro...
Orai sem cessar: “O Senhor
libertará o pobre que o invoca!” (Sl 72,12)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário