quinta-feira, 17 de março de 2016

PALAVRA DE VIDA

Jamais provará a morte... (Jo 8,51-59)
          Os filósofos já definiram o homem como um “ser-para-a-morte”, no sentido de que entre os fenômenos próprios da existência humana está aquela inevitável experiência a que denominamos “morte”. O povo simples é bem mais direto: “Da morte ninguém escapa”.

         Ambos têm razão, os complicados e os simples: em dado momento de nossa caminhada, passaremos pela morte. Como prova disto, lembrar que o próprio Filho de Deus, Jesus Cristo, homem verdadeiro e Deus verdadeiro, também passou pela morte. Em cada missa, nós o rezamos no “Credo”: “foi crucificado, morto e sepultado”.
         Passou, sim, mas não estacionou ali. Depois de morto, ele ressuscitou e “passou” para uma vida que desconhece a morte e já a superou em definitivo. E aqui temos a notável distinção entre o materialista e o cristão: a morte não é para nós o fim da linha, um beco sem saída nem o porto de chegada. Existe vida além do tempo, uma vida “eterna”.
         Tal como o Anjo exterminador, na noite da libertação do Egito, saltou sobre as casas dos hebreus cujos portais tinham sido marcados com o sangue dos cordeiros, assim também nós “passamos por cima” [em hebraico, “pessach”, páscoa, passagem] e vamos além.
         O que chamamos de morte é uma separação (quase sempre temida, muitas vezes sufocada no subconsciente) entre o corpo e a alma espiritual. O corpo se desfaz, se des-organiza nos elementos que o compunham, ora devolvidos à matéria terrestre. A alma, ao contrário, sopro da divindade (cf. Gn 2,7; Sl 104,29-30), permanece viva à espera do grande Dia do Senhor, quando veremos novos céus e nova terra (cf. Ap 21,1), recebendo um corpo glorificado (cf. 1Cor 15,4-44).
         Entretanto, de que nos adiantaria passar pela morte, ressuscitar e experimentar a “segunda morte”, o “lago de fogo” registrado no Apocalipse (20,14), destino dos condenados pela devassidão, pela feitiçaria e pela idolatria (cf. Ap 21,8)?
         No Evangelho de hoje, Jesus nos dá a senha, o salvo-conduto que nos permite ter acesso a uma vida sem fim, mergulhada no próprio Deus: “Se alguém guardar a minha palavra, jamais provará a morte”. Esta Palavra que salva é o próprio Jesus, Verbo-Palavra do Pai, fonte de vida e vencedor da morte. Ele sabia disso quando afirmou: “As palavras que eu vos disse são espírito e vida!” (Jo 6,63)
         A garantia de nossa “páscoa”, a passagem para Deus, está em uma vida orientada pela Palavra de Deus. Nem que seja uma palavra extrema, uma palavra última, como aquela dirigida na cruz ao ladrão: “Hoje estarás comigo no Paraíso”.
Orai sem cessar: “Vossa palavra é que me dá a vida.” (Sl 119,50)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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