Trinta moedas... (Mt 26,14-25)
Trinta
moedas de prata não eram uma quantia desprezível. Por este preço, na Palestina,
adquiria-se um escravo. Alguém poderia estranhar que o Filho de Deus custasse o
preço de um escravo. Ora, a cruz era proibida a um cidadão romano, mas cabia
muito bem a um escravo fugido ou revoltoso. E foi na cruz que Jesus se entregou
a nós. Paulo apóstolo, cidadão do Império, foi decapitado porque o Direito
Romano não permitia que fosse crucificado, assim como seriam Pedro e André.
Quem
estranhou não terá entendido, talvez, a passagem clássica de Fl 2,6ss: “Sendo
ele [Jesus Cristo] de condição divina (...), despojou-se, tomando a condição de
servo [= escravo]... ele se rebaixou, tornando-se obediente até a morte, e
morte numa cruz.” Ao abrir mão, livremente, de sua vontade própria – “Pai, não
se faça a minha vontade, mas a tua” (cf. Lc 22,42) -, Jesus Cristo se aniquila
da mesma forma como os escravos se aniquilavam diante de seus donos.
Trata-se de
um abandono total, sem reservas, movido pelo amor sem limites, a filantropia
de Deus por seu povo, que os Padres gregos chamavam de manikos éros, o
louco amor de Deus. Enfim, Zacarias previra o preço do Messias: “Pagaram, de
fato, o meu salário: trinta siclos de prata. O Senhor me disse: ‘Lança-o ao
fundidor, esse belo preço em que fui avaliado por eles.’” (Zc 11,12)
Para
melhor acolher dom tão precioso, talvez ajude meditar nas palavras de meu
soneto “O Amor imprudente”:
Não peçamos cuidados a quem
ama...
Não se espere prudência dos
amados...
Na insanidade dos apaixonados.
Arriscam alma, vida, ouro e
fama...
Quem tem amores já não teme a lama
Nem os seus braços ver crucificados:
Escandaloso, o amor solta mil brados
E uma resposta ao seu amor reclama!
Não é amor, decerto, se é
prudente.
Não é amor se não for chaga
ardente:
Uma noite de trevas e de
luz...
E o insensato maior que já foi visto
É, com certeza, o próprio Jesus Cristo
Que, apaixonado, se abraçou à Cruz!
Orai sem cessar: “São
os nossos sofrimentos que Ele carregou.” (Is 53,4)
Texto e poema de Antônio Carlos
Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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