Tirou o manto... (Jo
13,1-15)
Um dos símbolos da realeza, juntamente
com a coroa e o cetro real, é o manto de honra. Na última ceia em que convive
com seus apóstolos, Jesus se despe do manto e troca-o por uma tolha. É uma cena
de despojamento. E tem o seu sentido.
O manto é uma veste pesada, longa,
imprópria para prestar um serviço manual. Além do lado prático, o manto – bem
como as comendas e condecorações, os colares de mérito e os paramentos
religiosos – acaba por situar seu portador alguns degraus acima da gente comum.
E o Mestre precisa ensinar uma última lição: descer...
Aliás, toda a vida de Jesus foi uma
permanente descida. Desce do Pai para a mulher, em sua encarnação. O divino
desce ao nível dos humanos. Homem, desce ao nível dos servos, lavando os pés
dos discípulos. Rebaixa-se ainda mais: aceita morrer na cruz, suplício
reservado aos escravos e proibido aos cidadãos. Morto, desce ao túmulo. Depois
de sepultado, desce ao Xeol, a mansão dos mortos, para levar a eles a Boa Nova
(cf. 1Pd 3,19; 4,6). Acabou a descida? Ainda não: em cada missa, sob a
aparência material de uma pasta de água e farinha de trigo, Jesus continua a descer
sobre nossos altares.
Ainda queremos subir? Receber aplausos?
Merecer honrarias? Subir no pódio? Que fez Jesus Cristo ao lavar os pés de seus
discípulos? A resposta nos é dada por Mons. Claude Rault, Bispo do Saara
argelino:
“Ele assumiu a condição do Servidor...
Ele estabeleceu o sinal que o compromete no caminho do dom de sua vida por
todos. E agora pede a seus discípulos que façam o mesmo. Não apenas fazer
gestos de gentileza, prestar serviços eventuais, mas serem ‘servidores’ uns dos
outros. Ele pede a seus discípulos que tenham uns pelos outros um amor
suficientemente forte para ir até o fim, até o dom de sua vida, se assim for
preciso.”
Recentemente,
o Papa Francisco veio apontar na mesma direção: “O nosso compromisso não
consiste exclusivamente em ações ou em programas de promoção e assistência;
aquilo que o Espírito põe em movimento não é um excesso de ativismo, mas
primariamente uma atenção prestada ao outro ‘considerando-o como um só consigo
mesmo’. Esta atenção amiga é o início duma verdadeira preocupação pela sua
pessoa e, a partir dela, desejo procurar efetivamente o seu bem. [...] Unicamente
a partir desta proximidade real e cordial é que podemos acompanhá-los
adequadamente no seu caminho de libertação”. (EG, 199)
Vamos despir
o manto?
Orai sem cessar: “Servi ao
Senhor com alegria!” (Sl 100,2)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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