Mete a
espada na bainha! (Jo
18,1 – 19,42)
Os discípulos de
Jesus não eram propriamente uns pacifistas... Além das frequentes altercações
no interior do grupo, dois deles até ganharam o apelido de “filhos do Trovão”
[os Boanerges], por manifestarem a intenção de invocar o fogo do céu sobre os
samaritanos (Mc 3,17).
Convém lembrar que a Palestina estava sob
dominação romana. As águias das legiões invasoras estavam por toda parte. Ainda
que as autoridades religiosas e os herodianos compactuassem com a ocupação (e
até lucrassem com isso!), no meio do povo havia um ódio surdo contra Roma.
Houve revoltas populares e uma guerrilha permanente movida pelos zelotas. Os
exegetas reconhecem um ou dois zelotas entre os Doze, em especial o segundo Simão
(cf. Lc 6,15). Em outra passagem, o Evangelho registra que entre os Doze havia
“duas espadas” (Lc 22,38).
Hoje, no momento da prisão de Jesus, Simão
Pedro saca da espada e fere a cabeça de um dos homens enviados pelos sacerdotes
do Templo, decepando-lhe a orelha. A pronta reação do Senhor foi um imperativo
seco: “Mete a espada na bainha!” E, de imediato, tocou a ferida do servo,
curando-o (Lc 22,51).
Creio que este exemplo é suficiente para
que todo cristão desista, de uma vez por todas, do uso da violência para
corrigir os erros individuais e sociais. Quando, nos últimos tempos, setores
cristãos adotaram métodos e conceitos marxistas para “construir o Reino”,
estimulando a luta de classes e acendendo rastilhos de ódio como reação aos
pecados do sistema, certamente não seguiam os ensinamentos de Cristo.
Jesus se entrega. Abandona-se nas mãos de
seus algozes. Nos primeiros tempos da Igreja, todo cristão sabia que seu futuro
incluía os leões da arena e os carrascos do Imperador. E era com alegria – e
sem ódio! – que eles enfrentavam o martírio no Coliseu e os trabalhos forçados
nas minas de metal.
Jesus é o manso cordeiro antevisto por
Isaías: “Brutalizado, ele se humilha, não abre a boca; como um cordeiro é
arrastado ao matadouro, como uma ovelha emudece diante dos tosquiadores, ele
não abre a boca.” (Is 53,7) É a esse mesmo Cordeiro de Deus que nos dirigimos,
em cada Eucaristia, pedindo a paz: “Cordeiro de Deus / que tirais o pecado do
mundo / dai-nos a paz!”
Ora, como pediremos a paz se tambores de
guerra ruflam permanentemente em nossos corações?
Orai sem cessar: “Escuto
o que diz o Senhor; Ele diz: ‘Paz’.” (Sl 85,9)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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