Fica
conosco! (Lc 24,13-35)
Dois discípulos
tristes e desanimados se afastam de Jerusalém, cedendo à tentação de voltar à
vida velha. Cléofas (que foi possivelmente a “fonte” de São Lucas) e um
anônimo. Domina-os a decepção causada pela morte de Jesus no Calvário. Teriam
eles alimentado sonhos de grandeza em relação ao Reino que Jesus iria
instaurar? Seja como for, tudo deu errado. O clima é de funeral...
Mas é exatamente
Jesus quem surge em seu caminho e, sem ser reconhecido, partilha com eles um
pedaço de estrada, até a aldeia de Emaús. Enquanto caminham, o desconhecido faz
com eles uma “liturgia da Palavra”: “começando por Moisés e os Profetas”, ele demonstra
do modo cabal que os tristes acontecimentos daqueles dias correspondiam
perfeitamente ao desígnio de Deus para o Messias. Enquanto ouvem, seu coração
está em brasa. Um novo ardor toma posse deles.
Chegando à aldeia,
os dois convencem Jesus a pernoitar com eles: “Fica conosco, porque se faz
tarde e o dia já declina”. No fundo do coração, pulsava o desejo de estender no
tempo aquela experiência libertadora. Assim, os três acabam juntos, na mesma
mesa...
É o momento de uma
“liturgia eucarística”: Jesus Ressuscitado toma o pão, abençoa-o e o parte,
repartindo com os dois. Só então os olhos deles se abrem ao reconhecer os
gestos familiares: os mesmos gestos da Última Ceia, as mesmas etapas de cada
Eucaristia. Um Ofertório (tomar o pão), uma Consagração (abençoar
o pão) e uma Comunhão (distribuir o pão).
O “Catecismo da Igreja Católica” (nº 1329)
define a Eucaristia como “fração do Pão, porque este rito, próprio da
refeição judaica, foi utilizado por Jesus quando abençoava e distribuía o pão
como presidente da mesa, sobretudo por ocasião da Última Ceia. É por este gesto
que os discípulos o reconhecerão após a ressurreição, e é com esta expressão
que os primeiros cristãos designarão suas assembleias eucarísticas”.
Re-conhecendo a
Jesus, recuperam a fé. Já não precisam “ver” o Cristo. Por isso mesmo, ele
desaparece diante de seus olhos. E foi exatamente a fé recuperada que os pôs a
caminho, de volta para Jerusalém. De volta para a Igreja, onde poderiam
testemunhar: “Vimos o Senhor. Ele vive!”
Como estamos
vivenciando a Santa Missa? A Liturgia da Palavra reacende em nosso coração o
ardor por Jesus Cristo? A Liturgia Eucarística nos repõe no caminho do anúncio
da Boa Nova?
Orai sem cessar:
“Senhor, dai-nos sempre deste Pão!” (Jo 6,34)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança
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