terça-feira, 29 de março de 2016

PALAVRA DE VIDA

A quem procuras? (Jo 20,11-18)
         Esta é uma pergunta essencial para todos nós. Diferente de qualquer outro animal, que se contenta com encontrar água e comida, o homem é um ser sempre em busca de sentido. Nem mesmo a transição do nomadismo para a vida sedentária do urbanismo atual pôde alterar este traço constitutivo do ser humano: a procura...

         Antes de sua Paixão e morte, Jesus já repetira a mesma pergunta por duas vezes. Na primeira, aos dois discípulos de João (cf. Jo 1,38); na segunda vez, aos guardas que foram prendê-lo no Getsêmani (cf. Jo 18,4). Duas diferentes maneiras de procurar Jesus: uns para segui-lo, outros para prendê-lo.
         Não é o caso de Maria Madalena. Ela está envolvida em uma procura vital: seu amado morreu e o corpo lhe foi tirado. Onde encontrá-lo de novo? Sem nenhum exagero, podemos atribuir a Madalena as palavras do Cântico dos Cânticos: “Em meu leito, durante a noite, procurei o amado de minha alma. Procurei-o, e não o encontrei... Acaso vistes, vós, o amado de minha alma?” (Ct 3,1.3)
         Em sua busca, Madalena se debruça sobre o túmulo. Ela procurava por um morto. Atitude bem semelhante à de tantos, em nosso tempo, quando só conseguem pensar em Jesus Cristo como personagem do passado, mergulhado nas brumas da história, misturado a césares e generais, filósofos e condottieri. Madalena não sabe, mas está de costas para Jesus...
         É quando ela se vira para trás. Ali está Jesus. Aquele que só enxergamos no momento de uma “conversão”, uma mudança de rumo, um novo enfoque produzido pela Graça.
         “Este encontro no jardim não é fortuito – afirma Claude Rault. O jardim onde o grão foi lançado à terra, o jardim do túmulo, torna-se o jardim do Gênesis, aquele das origens. Foi nesse lugar que Adão e Eva gozavam da intimidade de Deus. No jardim do túmulo a mulher vai encontrar a presença do Senhor.”
         No jardim do Éden, era Deus quem procurava pelo humano: “Adão, onde estás?” No jardim do Getsêmani, a mulher procura por Deus. E ele se deixa encontrar. Ainda que ela buscasse por um cadáver, uma simples lembrança, uma sombra do passado...
         Mas o Amado está vivo. Ele rompeu as barreiras da morte. Ele ainda pode falar. E fala. Chama-a pelo nome: “Mariam”. Madalena não só ouve o próprio nome, mas reconhece a música da voz: ninguém chama por mim dessa maneira! E logo responde: “Rabbouni!” Em aramaico, um diminutivo afetivo de “Rabi”, mestre, que poderíamos traduzir por “querido mestre”. Acabou a procura. Ela o achou...
Orai sem cessar: “Buscai o Senhor enquanto é possível encontrar...” (Is 55,6)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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