A quem procuras? (Jo
20,11-18)
Esta é uma pergunta essencial para
todos nós. Diferente de qualquer outro animal, que se contenta com encontrar
água e comida, o homem é um ser sempre em busca de sentido. Nem mesmo a
transição do nomadismo para a vida sedentária do urbanismo atual pôde alterar
este traço constitutivo do ser humano: a procura...
Antes de sua Paixão e morte, Jesus já
repetira a mesma pergunta por duas vezes. Na primeira, aos dois discípulos de João
(cf. Jo 1,38); na segunda vez, aos guardas que foram prendê-lo no Getsêmani
(cf. Jo 18,4). Duas diferentes maneiras de procurar Jesus: uns para segui-lo,
outros para prendê-lo.
Não é o caso de Maria Madalena. Ela
está envolvida em uma procura vital: seu amado morreu e o corpo lhe foi tirado.
Onde encontrá-lo de novo? Sem nenhum exagero, podemos atribuir a Madalena as
palavras do Cântico dos Cânticos: “Em meu leito, durante a noite, procurei o
amado de minha alma. Procurei-o, e não o encontrei... Acaso vistes, vós, o
amado de minha alma?” (Ct 3,1.3)
Em sua busca, Madalena se debruça sobre
o túmulo. Ela procurava por um morto. Atitude bem semelhante à de tantos, em
nosso tempo, quando só conseguem pensar em Jesus Cristo como personagem do
passado, mergulhado nas brumas da história, misturado a césares e generais,
filósofos e condottieri. Madalena não
sabe, mas está de costas para Jesus...
É quando ela se vira para trás. Ali
está Jesus. Aquele que só enxergamos no momento de uma “conversão”, uma mudança
de rumo, um novo enfoque produzido pela Graça.
“Este encontro no jardim não é fortuito
– afirma Claude Rault. O jardim onde o grão foi lançado à terra, o jardim do
túmulo, torna-se o jardim do Gênesis, aquele das origens. Foi nesse lugar que
Adão e Eva gozavam da intimidade de Deus. No jardim do túmulo a mulher vai
encontrar a presença do Senhor.”
No jardim do Éden, era Deus quem
procurava pelo humano: “Adão, onde estás?” No jardim do Getsêmani, a mulher
procura por Deus. E ele se deixa encontrar. Ainda que ela buscasse por um
cadáver, uma simples lembrança, uma sombra do passado...
Mas o Amado está vivo. Ele rompeu as
barreiras da morte. Ele ainda pode falar. E fala. Chama-a pelo nome: “Mariam”. Madalena não só ouve o próprio
nome, mas reconhece a música da voz: ninguém chama por mim dessa maneira! E
logo responde: “Rabbouni!” Em
aramaico, um diminutivo afetivo de “Rabi”, mestre, que poderíamos traduzir por
“querido mestre”. Acabou a procura. Ela o achou...
Orai sem cessar: “Buscai o
Senhor enquanto é possível encontrar...” (Is 55,6)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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