É o
Senhor! (Jo 21,1-14)
O cenário é o Lago
de Genesaré ou Tiberíades que, na região de poucas águas, era conhecido como o
“Mar” da Galileia. Formado principalmente pelas águas do Jordão, era a vida de
várias cidades costeiras, como Tiberíades e Cafarnaum. Em suas margens,
ocorrera o chamado de Jesus para Pedro e André, Tiago e João (Mc 1,16-20),
prometendo fazê-los “pescadores de homens”. Ali presenciaram com assombro a
primeira pesca milagrosa (Lc 5,1-11), após uma noite inteira de trabalho
inútil.
Desta vez, com
Jesus já ressuscitado, o Evangelho narra uma espécie de retorno ao passado, uma
experiência tateante de voltar a território seguro: o de pescar peixes. De novo
o mar se mostra ingrato. De mãos vazias, navegavam para a margem, onde um vulto
meio indistinto nas brumas da madrugada pede um peixe para comer. Diante da
resposta negativa dos pescadores, faz uma sugestão: “Lançai a rede para a
direita do barco e haveis de achar...”
Contra toda expectativa humana, eles
obedecem e – para surpresa deles – as redes se mostram tão pesadas que mal
podem ser arrastadas. Foi o suficiente para que João reconhecesse o autor da
proposta: - “É o Senhor!” E Pedro, cobrindo-se, pois estava em trajes menores,
lançou-se às águas...
O texto é rico de
sugestões, mas permite uma reflexão especial. O trabalho humano é limitado.
Nossas capacidades são relativas. Há inúmeros obstáculos para nossa atuação.
Mas se o Senhor entra em nosso trabalho, tudo muda. É diferente agir por
iniciativa própria e atuar sob a inspiração de Deus.
Pedro é o velho
pescador, já sem o ânimo e a novidade da juventude. As redes eram velhas,
sofriam remendos desde o primeiro encontro com Jesus. As barcas, cansadas. O
lago, frequentemente ingrato em responder ao esforço dos pescadores. Mas bastou
seguir a ordem do Mestre, e a pesca foi farta, acima de toda expectativa
humana. João, mais jovem, sempre intuitivo, é o primeiro a perceber que ali
“havia coisa”: o resultado superava infinitamente a capacidade dos homens e a
possibilidade das águas. Por isso, num relance, intui a presença de Jesus na
praia deserta.
A Igreja deve aprender com este episódio.
As comunidades e famílias tenham sempre em mente os limites de seu trabalho. Ao
mesmo tempo, porém, devem manter os olhos fixos em Jesus, ajustar a sintonia
fina nas inspirações do Espírito Santo, para perceber em que direção há de
soprar o Vento...
Estamos atentos à
voz de Deus que nos fala pela Igreja?
Orai sem cessar:
“Mostra-me, Senhor, os teus caminhos!” (Sl 27,11)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança
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