As obras de Deus...
(Jo 6,22-29)

Nesta passagem, Jesus vem
arrancar as máscaras da ambiguidade de seus seguidores. “Por que motivo vocês me
seguem? Porque comeram o pão multiplicado? Ou porque identificaram o Messias
prometido?” Estamos correndo atrás de quem? De um padeiro barateiro ou de um
Salvador exigente?
Como observa Claude Rault, “para
Jesus, já não se trata de dar mais pão, mas de pôr a multidão a trabalhar em um
trabalho que dá o verdadeiro alimento: o trabalho da fé”. Aliás, Jesus não para
de trabalhar: “Meu Pai trabalha sempre, e eu também trabalho”. (Jo 5,17) Aquele
Deus Criador que trabalha permanentemente na Criação é o mesmo que trabalha sem
cessar em nossos corações. O artesão do universo é o artífice de nossa
existência...
Assim, não basta “aceitar o
Senhor e Salvador”, bordão de certas denominações cristãs. Preciso associar-me
à “obra de Deus”. E a primeira maneira de fazê-lo consiste em crer na vida e me
comprometer pessoalmente no terreno da vida. Invertendo as expectativas mais
comuns, Etty Hillesum escreveu: “Se Deus para de me ajudar, cabe a mim ajudar a
Deus”.
Volto à lição de Dom Claude
Rault: “Deus se recusa a fazer as coisas sozinho. Ele contrata operários,
precisa de ajuda para sua criação, a começar por aquilo de mais precioso na
natureza: a pessoa humana”. Esta frase, aparentemente banal, denuncia com
explosiva violência o sentido dado à economia do capitalismo, cujo alvo
principal não é o bem do homem, mas o lucro. Qual o objetivo maior da indústria
bélica? Defender a vida? Qual o alvo principal das multinacionais dos fármacos?
Não é o lucro? Qual a motivação central dos governantes? Não é manter-se no
poder?
Isto explica a falta de hospitais
e centros de saúde. Explica o abandono da classe do magistério. Explica a visão
dos investimentos em educação como “gastos” indesejáveis. Explica a importância
dada aos orçamentos militares.
Mas não podemos nos restringir a
acusar e criticar. Muita gente já aderiu ao projeto de Deus na defesa da Vida!
Estão multiplicando os pães e os peixes. Comprometem todo o seu ser para salvar
o planeta do desastre que se aproxima. E Deus trabalha com eles...
Orai
sem cessar: “Uma geração conta à outra as tuas obras!” (Sl 145,4)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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