Para onde não queres
ir... (Jo 21,1-19)
Ser amarrado pela cintura e
arrastado à força é o que Jesus prenuncia para Pedro, o primeiro Papa. E “ser
levado para onde não queres ir”. No mínimo, podemos ler aqui duas leituras
diferentes: 1) a missão do Papa é uma correnteza avassaladora da qual ele não
pode fugir; 2) em sua fidelidade à mesma missão, ela encontrará adversários,
inimigos e perseguidores.
Neste Evangelho, à beira do Lago,
Simão Pedro, o velho pescador, ouve de Jesus por três vezes o imperativo
inseparável de sua missão: “apascenta meus cordeiros!”, “sê o pastor de minhas
ovelhas!”, “apascenta minhas ovelhas!” Esta missão, se assumida na prática,
será a resposta ativa à pergunta que ele acaba de ouvir por três vezes: “Simão,
tu me amas?”
Urs von Balthasar comenta: “O
evangelho da aparição do Senhor à beira do Lago de Tiberíades acaba pela
investidura de Pedro em seu ministério de pastor. Tudo o que o precede foi uma
preparação: a pesca infrutífera, a seguir a pesca milagrosa, após a qual Pedro
se lança na água para juntar-se ao Senhor e se mantém ao lado dele, sobre a
rocha da eternidade. O resto da Igreja lhe traz seu pescado, pois somente Pedro
conduz à terra a rede inteira.
E, por fim, a pergunta decisiva
lhe é dirigida: “Tu me amas mais do que estes?” Tu, o renegado, mais que aquele
discípulo bem-amado que se manteve ao pé da cruz? Consciente de sua falta ao
ouvir a tríplice pergunta, Pedro diz um primeiro sim arrependido. Sem a
declaração desse amor maior, o Bom Pastor, que dá a vida por suas ovelhas, não
poderia confiar a Pedro o encargo de apascentar seu rebanho. O ministério que
Jesus recebeu do Pai é idêntico ao dom amoroso de sua vida por suas ovelhas.
E para que seja definitivamente
selada esta unidade do ministério e do amor, absolutamente exigida após a
atribuição do ministério por Jesus, é prenunciada a Pedro a crucifixão, o dom
de seguir Jesus até o fim.
Desde então, a cruz permanecerá
ligada ao papado, ainda que devam existir papas indignos. E quanto mais um Papa
assuma autenticamente o seu ministério, tanto mais pesadamente ele sentirá a
cruz pesar sobre seus ombros.”
Basta contemplar atentamente a
vida dos últimos papas e verificar a veracidade dessa observação: críticas,
oposições, formação de partidos contrários, campanhas de difamação, atentados –
tudo isto faz parte da cruz de Pedro, capaz de deixar uma pessoa de cabeça para
baixo... O sangue de João Paulo II, na Praça de São Pedro, é apenas a face mais
visível desse Calvário.
Orai sem cessar:
“Eu vos darei pastores segundo o meu coração...” (Jr 3,15)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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