domingo, 3 de abril de 2016

PALAVRA DE VIDA

Serão perdoados... (Jo 20,19-31)
          Via de regra, neste Evangelho, os nossos olhos acompanham o notável Caravaggio para se fixarem no trêmulo dedo indicador de Tomé que apalpa a ferida do peito de Cristo ressuscitado. Com isso, passamos distraídos das palavras de Jesus que nos oferecem a ferramenta do perdão dos pecados: o Sacramento da Confissão. Aliás, foi exatamente para que tivéssemos acesso a este perdão que aquela ferida foi rasgada no lado do Crucificado...

         O teólogo Hans Urs von Balthasar comenta a cena:
         “Confissão e fé. O Evangelho tem estes dois centros de gravidade: vindo dos infernos, Jesus aparece aos discípulos e lhes traz a grande absolvição dos céus para o pecado do mundo, que ele carregou sobre a cruz e, por assim dizer, confessou.
         A Páscoa é a festa em que a Igreja recebe o poder de perdoar todo pecado do qual nos arrependemos, e é para isso que ela recebe, de Jesus, o Espírito Santo. A confissão não é uma penitência, mas um dom recebido, pessoalmente, com o perdão transmitido pela Igreja que nos torna puros, a nós que estamos sujos, como “crianças recém-nascidas” (1Pd 2,2).
         Isto, porém, na fé que permite a Deus agir em nós, e não em uma pretensão que quer ver esta ação também psicologicamente.
         É por isso que o evangelista narra, logo após a história do incrédulo Tomé, que ouve em nome de todas as gerações de cristãos que hão de vir: ‘Felizes aqueles que creram sem terem visto’ (v. 29). O que Deus realiza em nós é muito maior do que aquilo que entra no estreito vaso de nossa experiência.”
         Claro, esta “experiência” de fé não se realiza em nosso gabinete particular ou no alto da montanha preferida, mas no seio da Igreja, no coração da comunidade. Ausente da reunião dominical, Tomé se encerrara na camisa-de-força da incredulidade. De volta ao convívio dominical dos discípulos, os olhos do Apóstolo se abrem e ele pode proclamar: “Meu Senhor e meu Deus!” (V. 28) A comunidade dos discípulos de Cristo é o verdadeiro espaço da reintegração na fé.
         Como observa von Balthasar, “no mais profundo, esta comunidade na fé em Jesus Cristo é mantida unida pela eucaristia celebrada em comum; é aqui que os crentes compreendem definitivamente que esta comunidade não é formada por eles-mesmos num plano puramente humano, mas ela é uma fundação do Senhor. Só nele e por ele é que, uns com os outros, eles são Igreja”.
         Então, ficamos assim: a Igreja de Jesus é uma assembleia de perdoados...
Orai sem cessar: “Perdoa nossos pecados por amor do teu nome!” (Sl 79,9)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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