A luz veio ao mundo... (Jo 3,16-21)
Antes
da luz, o Caos. Na expressão hebraica, tohu-bohu,
o deserto e o vazio que são imagem do nada na cosmovisão dos semitas. E Deus toma
a iniciativa de chamar pela luz. E a luz se fez. (Cf. Gn 1,3) Ainda não temos
lua e sol, os futuros “lampadários” do Gênesis. Mas já temos luz...
É
belo tomar consciência de que o Criador é também um iluminador. E sua
iluminação não se faz de um jato, mas é progressiva. Chamemos este processo de
“revelação”. Pouco a pouco, passo a passo, geração após geração, a humanidade
vai recebendo ondas de luz, em maré ascendente, até atingir seu ponto máximo: a
Encarnação do Verbo!
Sim,
“o Verbo se fez carne e habitou entre nós”. (Jo 1,14) E enquanto está no mundo,
o Verbo é a luz do mundo (cf. Jo 9,5). Com sua chegada, torna-se impossível
ocultar a treva. Os legionários do mal se esforçam por disfarçar seus projetos.
Inutilmente. Ao contrário, quanto mais forte a fonte de luz, mais visíveis são
as sombras.
É
dupla a iluminação trazida por Jesus Cristo. Primeiro, o Filho ilumina a imagem
que fazemos de Deus. Jesus revela um Deus que em nada lembra os trovões do
Sinai ou um general à frente de exércitos sedentos de sangue. Não um Deus
notário, registrando dívidas em um livro de capa preta. Não um Deus policial em
busca de infratores. O Deus revelado pelo Filho é um Deus diferente, que não
quer sacrifícios, mas misericórdia (Mt 9,13). E no âmago desse processo de des-velamento,
aprendemos com o Filho que Deus é nosso Pai. Nada mais elevado a conhecer sobre
Deus...
Mas
há um segundo véu a ser levantado. Jesus, o Verbo encarnado, ilumina também a
imagem do homem, pois se temos um Pai comum, então somos irmãos. Já não há
estranhos neste planeta onde a luz e as trevas combatem no seu permanente
duelo. Já não faz sentido traçar linhas no mapa, delimitar territórios, erguer
muralhas, matar por fronteiras. Nós e eles somos criaturas do mesmo Deus,
formamos uma só raça, uma só família.
“O
golpe de gênio do cristianismo, aquilo que o distingue de todas as outras
religiões, é a Encarnação. Deus se faz homem. O Filho do Homem é Deus e, de
certa maneira, o homem se torna Deus... Deus não pode ser conhecido, mas Jesus
pode ser amado. O impossível saber mudou-se em amor.” (Jean d’Ormesson)
Este
é o desafio que Jesus propõe a Nicodemos na penumbra de sua noite: passar do
saber ao sabor. Do saber ao amor. Enquanto os gnósticos e os iluminados
insistem na procura de conhecimentos esotéricos, Deus nasce de Mulher para ser
amado pelos homens...
Orai sem cessar: “Amamos
porque ele nos amou primeiro.” (1Jo 4,19)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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