sexta-feira, 8 de abril de 2016

PALAVRA DE VIDA

 Jesus deu graças... (Jo 6,1-15)

               É preciso contemplar as narrativas do Evangelho com mais demora, mais atenção. Afeitos à linguagem televisiva, que bombardeia nosso olhar com imagens que não duram 3 segundos, vamos perdendo a capacidade de contemplar. Ficamos na casca das coisas...
               Nesta narrativa da multiplicação dos pães, distraídos com as quantidades e os impossíveis, deixamos de gravar um gesto de Jesus: ao tomar nas mãos os poucos pães, Jesus “dá graças”. No texto grego original do evangelista João, “eucharistésas”, um verbo com o mesmo radical de “Eucaristia”.
               E por que motivo Jesus dá graças? Por cinco humildes pães de cevada (cf. Jo 6,9). Só isto?! Só isto... Então, vamos esquecer o milagre que viria depois, os doze cestos de sobras, o espanto geral. Vamos deter-nos no detalhe que passa batido: na raiz do fenômeno, uma “ação de graças”.
               Ora, nós talvez déssemos graças a Deus pela cura do câncer, pelo salvamento de um naufrágio, pelo prêmio da loteria. São coisas grandes! Situações que dão manchete. Mas dar graças por uma ninharia dessas?!
               Aí está: perdemos a capacidade de agradecer pelo pouco. Pelo comum. Pelo trivial. Ou - para usar uma expressão do Evangelho – pelo pão de cada dia. Aqueles dons de todo dia não merecem nossa gratidão.
               E quais são eles? A luz do sol... o ar que respiramos... a água da torneira... o beijo da mãe... o abraço do pai... a presença dos amigos... o emprego que ainda temos... o cafezinho do intervalo... o sorriso da recepcionista...
               Todos estes pequenos milagres passam por nós como se fosse direitos adquiridos. Perderam o seu rosto de “dom”. Não há por que agradecer... Se fosse algo maior, mais caro, mais sensacional, talvez agradecêssemos. E sob a pele da ingratidão, a falta de fé!
               Aprendi com Claude Rault que há dois tipos de fé: uma que brota dos sinais e outra que nasce da Palavra. A primeira é instável e imperfeita: quando o sinal falta ou não é bem traduzido, corre o risco de naufragar. A outra – que germina com a Palavra acolhida – é a fé que chegou ao cume da maturidade. Daí, a afirmação de Jesus: “Felizes os que creram sem ter visto!” (Jo 20,29) Bastou a Palavra para alicerçar a fé...
               Pode ser que ainda esperamos de Deus um grande milagre, algo impossível às limitações da condição humana. Enquanto isso, não agradecemos os pequenos milagres de cada dia...
Orai sem cessar: “Entoai ação de graças ao Senhor!” (Sl 147,7)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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