Não tenham medo! (Jo 6,16-21)
O medo é um velho companheiro do
homem. Os antropólogos veem suas raízes nos tempos primitivos, quando as
primeiras tribos se sentiram desarmadas diante dos perigos do ambiente,
alimentados e reforçados pelo desconhecimento das forças naturais (relâmpagos,
trovões, inundações), das mudanças climáticas, pela presença de seres
desconhecidos. Das cavernas aos arranha-céus, o medo nos acompanha.
Por sua vez, os teólogos
identificam a presença do medo logo no terceiro capítulo da Bíblia, onde o
primeiro homem já se ocultava do Criador em um recanto do Éden: “Ouvi teu
ruído... tive medo... escondi-me...” (Gn 3,10) O sentimento de culpa, após a
quebra da Lei, leva Adam a ver seu Criador como um possível inimigo.
Para os psicólogos, o medo é uma
emoção “natural” que nos alerta para perigos reais e funciona como um mecanismo
de proteção. Fica difícil, porém, justificar certas fobias, como o medo de
baratas, que não mordem, ou de elevadores, que caem menos que os aviões. A vela
acesa em um copo produz um estalo e a multidão sai em disparada, tomada de
pânico, imaginando novo ataque terrorista em Paris.
Ignorância, superstição,
consciência pesada, traumas do passado – tudo pode estar na raiz do medo que
nos paralisa. Talvez seja este o pior efeito do medo: a paralisia que nos
impede de assumir a missão, seguir adiante, enfrentar obstáculos e sofrimentos.
Chegamos ao extremo de ter medo de... ter medo!
Neste Evangelho, os discípulos
são tomados pelo medo. É noite escura, o mar agitado, o vento forte. Como se
não bastasse, avistam uma forma humana que caminha sobre as águas. Seria um
fantasma? (Cf. Mc 6,59) Foi entre gritos de terror que ouviram a voz de Jesus:
“Sou eu. Não tenham medo!”
Uma rápida leitura dos Evangelhos
nos mostra como o medo roía aqueles corações: medo de Herodes, medo das
autoridades do Templo, medo da oposição dos fariseus, medo da lepra, medo dos
maus espíritos, medo da morte. Diferente de todos, Jesus de Nazaré denuncia o
rei, acusa os escribas, toca o leproso, expulsa os demônios, vence a morte,
Entre os discípulos, o medo só
aumentou com a morte de Jesus. Estavam trancados, com medo dos judeus, quando o
Ressuscitado foi visitá-los (cf. Jo 20,19). No entanto, após a manhã de
Pentecostes, inflamados pelo fogo do Espírito Santo, vamos encontrá-los de pé,
na praça pública, anunciando Jesus como o Messias e denunciando seus carrascos:
“Vós o matastes, mas Deus o ressuscitou!” (At 2,23-24)
Orai
sem cessar: “Não temerei mal algum, pois estás comigo!” (Sl 23,4)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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