O mundo não te conheceu... (Jo 17,20-26)
Desde a Criação do
Cosmo até a Encarnação do Verbo, decorreram milhões de anos. Desde o primeiro
grupamento humano até o nascimento do Menino de Belém, milhares de gerações
calcaram a poeira. E por todo este tempo, o Pai permanecia desconhecido...
Claro, alguém terá
intuído a necessidade de um Criador, uma Inteligência por trás da extrema complexidade
dos sóis e dos trigais, Aquele que estabeleceu as leis de toda a natureza. Mas
não conheceram o Pai.
Algumas tribos
foram vergadas pelo medo e sentiram necessidade de sacrificar animais às
divindades e aos orixás, em sangrentos ritos animistas que deveriam amansá-los
e mantê-los à distância. Mas não conheceram o Pai.
Quando os
espanhóis do Séc. XV atravessaram o Atlântico e chegaram à América Central,
encontraram ali as pirâmides escalonadas, cujos degraus estavam recobertos
pelos crânios de jovens cruamente sacrificados ao cruel deus Xipe-Totec. E não
conheceram o Pai.
Enfim, Deus acabou
por escolher um povo e a ele se revelou, fazendo aliança com Abraão. Esse povo
cultuou o único Deus, mas o viu apenas como o Altíssimo, o Senhor dos
Exércitos, o vencedor dos ídolos, entre nuvens e trovões no Monte Sinai. Mas ainda
não conheceu o Pai...
Foi preciso que o
próprio Filho, ao se encarnar, nascendo de Mulher, viesse revelar-nos a
verdadeira face de Deus. E quando lhe pediram um modelo de oração, o Filho
ensinou: “Quando orardes, dizei assim: ‘Pai nosso’...
Estamos diante de
uma absoluta novidade. O Deus Criador e fonte da vida não é apenas um Ser
poderoso, mas Pai amoroso. Não é apenas transcendente, fora de nosso alcance,
mas se faz imanente e acessível em seu Filho. Não deve gerar temores e
tremores, mas impulsos de afeição e obediência filial. Diante dele, não somos
soldados nem servidores, mas filhos de sua predileção.
Em seus
“Cadernos”, Charles de Foucauld anotava: “Meu Deus, como sois bom, vós que nos
permitis chamar-vos ‘nosso Pai’. Quem sou para que meu Criador, meu Rei, meu
Mestre soberano me permita chamá-lo ‘meu Pai’? E não somente o permita, mas o
ordene? E já que sois meu Pai, ó meu Deus, quanto eu devo sempre esperar de
vós! Mas também, já que sois tão bom para mim, quanto eu devo ser bom para com
os outros!”
Aí está: quando se
conhece a Deus como Pai, aí é que conhecemos o outro como irmão. Até lá, a
fraternidade humana é impossível...
Orai sem cessar: “Pai
nosso!” (Mt 6,9)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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