quinta-feira, 12 de maio de 2016

PALAVRA DE VIDA

O mundo não te conheceu... (Jo 17,20-26)
               Desde a Criação do Cosmo até a Encarnação do Verbo, decorreram milhões de anos. Desde o primeiro grupamento humano até o nascimento do Menino de Belém, milhares de gerações calcaram a poeira. E por todo este tempo, o Pai permanecia desconhecido...

               Claro, alguém terá intuído a necessidade de um Criador, uma Inteligência por trás da extrema complexidade dos sóis e dos trigais, Aquele que estabeleceu as leis de toda a natureza. Mas não conheceram o Pai.
               Algumas tribos foram vergadas pelo medo e sentiram necessidade de sacrificar animais às divindades e aos orixás, em sangrentos ritos animistas que deveriam amansá-los e mantê-los à distância. Mas não conheceram o Pai.
               Quando os espanhóis do Séc. XV atravessaram o Atlântico e chegaram à América Central, encontraram ali as pirâmides escalonadas, cujos degraus estavam recobertos pelos crânios de jovens cruamente sacrificados ao cruel deus Xipe-Totec. E não conheceram o Pai.
               Enfim, Deus acabou por escolher um povo e a ele se revelou, fazendo aliança com Abraão. Esse povo cultuou o único Deus, mas o viu apenas como o Altíssimo, o Senhor dos Exércitos, o vencedor dos ídolos, entre nuvens e trovões no Monte Sinai. Mas ainda não conheceu o Pai...
               Foi preciso que o próprio Filho, ao se encarnar, nascendo de Mulher, viesse revelar-nos a verdadeira face de Deus. E quando lhe pediram um modelo de oração, o Filho ensinou: “Quando orardes, dizei assim: ‘Pai nosso’...
               Estamos diante de uma absoluta novidade. O Deus Criador e fonte da vida não é apenas um Ser poderoso, mas Pai amoroso. Não é apenas transcendente, fora de nosso alcance, mas se faz imanente e acessível em seu Filho. Não deve gerar temores e tremores, mas impulsos de afeição e obediência filial. Diante dele, não somos soldados nem servidores, mas filhos de sua predileção.
               Em seus “Cadernos”, Charles de Foucauld anotava: “Meu Deus, como sois bom, vós que nos permitis chamar-vos ‘nosso Pai’. Quem sou para que meu Criador, meu Rei, meu Mestre soberano me permita chamá-lo ‘meu Pai’? E não somente o permita, mas o ordene? E já que sois meu Pai, ó meu Deus, quanto eu devo sempre esperar de vós! Mas também, já que sois tão bom para mim, quanto eu devo ser bom para com os outros!”
               Aí está: quando se conhece a Deus como Pai, aí é que conhecemos o outro como irmão. Até lá, a fraternidade humana é impossível...
Orai sem cessar: “Pai nosso!” (Mt 6,9)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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