Tu sabes que te amo... (Jo 21,15-19)
Ah!
O verbo amar... Há quem ame o futebol, o jogo do poker, as novelas da TV... Outros amam as viagens de turismo, as
lutas marciais, um bom vinho, os filmes premiados de Hollywood. Mas,
felizmente, há quem ame os pobres, como Teresa de Calcutá; ou ame os
adolescentes, como Dom Bosco; ou ame os leprosos, como Damião de Veuster. São
diferentes amores...
Neste
Evangelho, Jesus Ressuscitado dialoga com Simão Pedro. E falam justamente de
amor. Ocorre que o texto grego do evangelista João – tantas vezes mal
traduzido! - faz um notável jogo com dois diferentes verbos que significam
“amar”. De um lado, o verbo “philêo”,
de onde criamos os termos filósofo (amigo do saber), cinéfilo (amigo do
cinema), filantropo (amigo da humanidade). Trata-se, pois, de um amor-amizade,
limitado à nossa dimensão humana.
De
outro lado, alça-se o verbo “agapâo”,
que nos deu a palavra ágape (refeição fraterna e celebração eucarística). E é exatamente
com este verbo que Jesus pergunta a Pedro: “Tu me amas? Tu me amas com amor de
adoração? Tu me amas com o amor devido somente a Deus?”
Mas
o velho pescador responde com o outro verbo: “Tu sabes que te amo de amigo.
Tenho por ti um amor de amizade”. Isto se repetiu por duas vezes. Na terceira
vez, Jesus mudou de verbo. Passa a perguntar com o mesmo verbo usado por Pedro
em suas respostas: “Tu me amas de amigo?” O Mestre baixa o nível da exigência e
se adapta à miséria do apóstolo.
Era
como se Jesus dissesse ao velho pescador: “Assim está bom. Podes me amar apenas
como amigo. Ao menos por enquanto... Não vou exigir de ti mais do que podes dar
agora...”
É
quando Pedro se põe a chorar. Este encontro à margem do lago, nas brumas da
madrugada, trazia à luz a fragilidade de Kefas, a Rocha, que acabara de negar
seu Mestre por três vezes, movido pelo medo de morrer. Por enquanto, ele ama
pouco...
Sim,
por enquanto... Alguns anos mais tarde, prisioneiro em Roma, o primeiro Papa
daria testemunho de seu amor ao ser crucificado como seu Mestre. Cravado no
madeiro, Pedro já podia clamar bem alto: “Sim, Jesus, eu te amo de amor!”
E
nós? De quanto amor somos capazes... por enquanto?
Orai sem cessar: “Eu
vos amo, Senhor, minha força!” (Sl
18,1)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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