Seja o último... (Mc 9,30-37)
Este Evangelho nos
traz palavras de Jesus que batem de frente com os padrões dominantes no mundo
capitalista. A salada de individualismo, temperada com o subjetivismo, alimenta
sempre mais o ego em busca de satisfação.
Na sociedade capitalista, aprendemos a
buscar o sucesso, a merecer medalhas de honra, a ocupar os primeiros lugares. Claro,
tudo isso tem seu preço.
Uma análise atenta (ou, como diriam os
antigos mestres espirituais, um bom exame de consciência...) de nossa própria
pessoa acabaria por identificar as raízes de nossa impaciência, dos repentes de
irritação, das explosões de cólera, da aversão pelos competidores. É que, no
fundo, nós nos temos em alta conta. Podem chamar de orgulho ou de vaidade.
Como ensinava Isaac, o Sírio [Séc. IX], “o
amor não saberia carregar a cólera, irritar-se ou ofender alguém com paixão. A
prova do amor e do conhecimento é a humildade, que nasce da boa consciência em
Cristo, nosso Senhor”. De fato, enquanto os humildes se voltam para o outro, os
orgulhosos concentram-se em si mesmos, nos próprios direitos e privilégios,
manifestando ressentimentos, pretensas ofensas, necessidades não atendidas.
Prossegue o mesmo Mestre da Igreja
primitiva: “Foge da vanglória e serás glorificado. Teme o orgulho e serás
exaltado. E se desprezaste a vanglória, foge daqueles que procuram por ela.
Vive com aqueles que têm a humildade e aprenderás como eles se comportam. E se
é útil a contemplação de tais homens, quanto mais os ensinamentos de sua boca!
Quando encontras teu próximo, esforça-te
por honrá-lo acima de sua medida. Louva-o, mesmo naquilo que ele não tem. E
quando ele te deixar, nada digas sobre ele, a não ser coisas belas e dignas.
Impondo a ti mesmo este hábito, forma-se em ti uma boa figura, adquires em ti
uma grande humildade e chegas sem dificuldade às grandes coisas.”
O sonho de ser grande, o impulso de se destacar
entre as pessoas, o medo de ser “gente comum” sobrecarregam os ombros da pessoa
com um fardo que logo deixará suas sequelas e suas feridas. Gera-se uma tensão
que excita e desgasta. A busca da vitória impede os tempos de descanso e
distensão. Se a vitória acontece, as pessoas próximas facilmente serão
induzidas ao ciúme e à inveja. É mais fácil amar os pequeninos. Os vitoriosos
podem acabar no cume de uma montanha chamada solidão...
Como pano de fundo para este Evangelho, a
casinha humilde de Nazaré, onde três pessoas se dedicam a servir, orientando
seus dons para o bem dos outros, dispostas a todo tipo de sacrifício – que
perde seu lado oneroso, pois é motivado pelo amor...
Orai sem cessar: “Servi
ao Senhor com alegria!”
(Sl 100,2)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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