Quando chegar a hora... (Jo 15,26 – 16,4a)
Mergulhados na
história, nossa existência é tecida de anos, meses e momentos. Mesmo os que
vivem mais (80 anos, diz o Salmo...), também chegam a uma barreira intransponível.
Neste decurso, há
tempo para tudo, diz o Eclesiastes. Tempo para coisas agradáveis, como rir e
dançar, mas também para situações mais difíceis, como chorar e se lamentar. E é
inútil a tentativa de adiar uma hora que se apresenta como um desafio.
Nos Evangelhos,
Jesus tem sempre presente a sua “hora”. “Minha hora ainda não chegou” – dizia
ele em Caná. (Jo 2,4) Mas reconhece claramente a sua aproximação: “Chegou a
hora em que o Filho do homem vai ser glorificado”. (Jo 12,23) E confirma sua
íntima disposição diante da Paixão: “Foi precisamente para esta hora que eu
vim”. (Jo 12,27)
No Evangelho de
hoje, Jesus prenuncia que também seus seguidores terão a sua “hora”: “Virá a
hora em que todo aquele que vos matar, julgará estar prestando culto a Deus”.
(Jo 16,2)
Então, estamos
combinados: o discípulo de Jesus não evitará pisar nas pegadas de seu Mestre.
Quando ele acolhe a proposta de acompanhar o Senhor, já está previamente
informado de que a jornada se encaminha para uma “hora” inevitável: a hora da
recusa, da repulsa, da rejeição.
Alguns a
experimentam desde o início, rompendo laços familiares – como Edith Stein -,
compromissos sociais – como Inácio de Loyola -, seguranças humanas – como
Teresa de Calcutá. Outros irão provar a hora amarga ao fim da vida, vendo seu
nome depreciado e sua obra reduzida a pó – como José de Calasanz.
Ao contrário de
nos acenar com um caminho simpático e agradável, adotando uma espécie de
“marketing” religioso, apropriado para seduzir uma multidão de apoiadores, Jesus
nos adverte com a máxima franqueza: não esperem por facilidades, não sonhem com
recompensas materiais, não se iludam com os aplausos humanos. Logo virá a
“hora”, e só então será possível medir a fidelidade dos seguidores do Mestre.
Má política, pensa
alguém. Péssima propaganda, acrescenta outro. Pura verdade, digo eu. E se
alguém se ilude ao seguir a Jesus, logo teremos mais um servidor desanimado,
mais um herói decepcionado, mais um missionário demissionário...
A hora de Jesus
veio no Calvário. Não no Tabor. Nossa hora também há de chegar. Mas é
exatamente nessa hora que a misericórdia de Deus nos envolverá como nunca...
Orai sem cessar: “Invoca-me
no dia da angústia; eu te livrarei!” (Sl 50,15)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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