Ele vos recordará tudo... (Jo 14,23-29)
Uma das
preocupações dos alunos sempre foi o risco de não se lembrarem de tudo o que o
mestre havia ensinado. Na época em que ainda não havia gravações e meios
eletrônicos, era preciso copiar, utilizar recursos mnemotécnicos, repetir
incansavelmente as lições recebidas.
Parece que também os discípulos de Jesus
vivenciaram esta situação: como gravar na memória todas as palavras que o
Mestre pronunciara na presença deles? Como manter vivo o sentido de suas
penetrantes parábolas? Como conservar a extensão e a amplitude dos gestos que
Jesus realizara diante de seus olhos?
Na verdade, isto não
era possível. A fluente correnteza de graça e verdade que os inundara por um
período próximo a três anos de convivência com o Senhor certamente ultrapassava
a capacidade daqueles homens simples, pescadores e guerrilheiros, agricultores
ou cobradores de impostos. A limitada natureza humana certamente iria precisar
de algum socorro do alto.
Pois é exatamente
disto que Jesus lhes fala neste Evangelho. E, já em clima de despedida,
anuncia-lhes a chegada de um novo Mestre, um pedagogo interior, sob o nome de
Paráclito – termo que designava, entre os gregos, o advogado de defesa nos
julgamentos. O prefixo para- deixa
claro que se trata de alguém que se põe “ao lado” do homem e o acompanha todo o
tempo.
Como diz Jesus, a
função desse Defensor – o Espírito Santo de Deus! – será a de trazer de volta
ao “coração” [re-cord-ar] as palavras
do primeiro Mestre e o sentido profundo que certamente acabariam por perder. E
não se trata de uma promessa feita a indivíduos isolados, mas à Igreja como um
todo. A frase de Jesus é a garantia de que a comunidade dos fiéis será
orientada pelo Espírito Santo, atualizando a rica herança de doutrina e
espiritualidade entregue à Igreja dos Doze.
É esta piedosa
assistência do Espírito que está por trás da exortação seguinte: “Não se
perturbe nem se atemorize o vosso coração”... Sim, é o coração a sede da
sabedoria. Não é tanto sobre a mente, sobre as funções cerebrais, que o
Espírito vem atuar. Em seu sentido bíblico, a palavra “coração” não se reduz à
bomba circulatória dos fisiologistas, nem ao poço sentimental dos poetas
românticos. O coração bíblico é o âmago da pessoa, o centro do ser, em especial
o núcleo volitivo, de onde brotam as decisões profundas do fiel.
Assistido pelo
Paráclito, o coração recorda e ama...
Orai sem cessar: “Conservo
no coração tuas promessas, Senhor!” (Sl 119,11)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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