O que Deus uniu... (Mc 10,1-12)
Este é um daqueles
Evangelhos que jamais teriam sido escritos pelos homens se não correspondesse
exatamente ao ensinamento de Jesus Cristo. Tão incômodo ele é, tão difícil de
“engolir”, em nossos dias como naqueles tempos.
É bem verdade que
a questão do divórcio foi apresentada ao Mestre em dado contexto social, quando
a mulher era vista como uma “aquisição” do homem e “era casada” para prestar-lhe
serviços, em especial o da maternidade. Nesse contexto, parecia “conveniente”
dispensá-la ou substituí-la quando já não pudesse preencher suas tarefas.
Jesus, porém, é
categórico: o homem não tem o direito de separar aquilo que Deus uniu. E tal
união é anterior à própria Igreja fundada por Jesus, pois a razão de sua
estabilidade, conforme o Mestre no-lo apresentou, está enraizada no desígnio de
Deus já revelado no Gênesis (cf. Gn 2,24). A partir de Jesus Cristo, porém, o
casamento se reveste de nova sacralidade. No âmbito cristão, ele é um “sacramento”,
um sinal sagrado do amor e da graça de Deus, a refletir – como imagem no
espelho – a própria fidelidade de Deus ao povo com o qual entrou em “aliança”,
assumindo o papel de “Esposo”.
É costume, entre
nós, tomar como sinônimos os termos “casamento” e “matrimônio”; seus
significados, no entanto, não possuem a mesma amplitude e a mesma profundidade.
Entre pagãos havia casamentos, alianças entre famílias, contratos assinados,
promessas trocadas e, quando necessário, separações e divórcios socialmente
aceitos. Já entre cristãos, a aliança matrimonial foi elevada à categoria de
sacramento, quando o noivo e a noiva, diante da Igreja, celebram sua união como
ministros de uma ação litúrgica. Nesta, um padre, ou um diácono, ou um ministro
extraordinário do matrimônio não são celebrantes, mas apenas testemunhas
autorizadas.
Assim, o
matrimônio cristão supõe três valores indispensáveis: a liberdade de escolha, a
abertura à vida e a indissolubilidade – esse estranho “para sempre” que tanto
incomoda o mundo atual.
No livro que tive
o prazer de traduzir [“Homem e Mulher: o
desafio do amor humano”], o Cardeal Angelo Scola escreve: “Pela graça do
sacramento, a relação entre o esposo e a esposa, haurindo na fonte inesgotável
da relação entre Cristo e sua Igreja, torna o ‘para sempre’ acessível à
experiência humana”. Edificada sobre a rocha, que é Cristo, e não sobre o areal
da frágil fidelidade humana, a união entre homem e mulher não flutuará ao sabor
dos ventos...
Orai sem cessar: “Eu
os amarrei com cordas de amor...” (Os 11,4)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade
Católica Nova Aliança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário