Ainda não... (Jo 16,12-15)
Jesus chega ao
final de sua missão, às vésperas de sua Paixão e morte, e revela aos discípulos
que ainda há muitos mistérios a serem revelados. Entretanto, ainda não estão
preparados para esta revelação. Estão verdes, imaturos. A prova dessa
imaturidade será dada na “hora” de Jesus, quando os discípulos adormecerão
durante a agonia do Mestre e o deixarão sozinho na cruz.
Em sua limitação
humana, os seguidores de Jesus – os de ontem e os de hoje! – não estão
habilitados a serem fiéis enquanto não recebem o seu Pentecostes particular.
Por isso é que Jesus adverte: “Quando vier o Espírito Santo, ele vos guiará em
toda a verdade”. (Jo 16,13)
Aqui, salta aos
olhos o engano que se comete na preparação dos servidores de Deus: investe-se
na formação intelectual, em elucubrações filosóficas, em devaneios teológicos,
mas deixa-se de lado a busca do Mestre interior, o único que lhes pode revelar
os mistérios de Cristo. Aprendem a contar apenas com métodos e teorias, com
projetos pastorais e linhas de ação, como se tudo dependesse da vontade humana.
E não sobre espaço para acompanhar a Mãe de Jesus ao Cenáculo e ali permanecer
à espera do Vento e do Fogo que modelam e cristalizam o corpo de Cristo.
Ora, a sobrecarga
de intelecto e lógica sufoca o espírito humano e o deixa hermético às sugestões
do Paráclito. Comparado ao tempo de estudo, o espaço da oração é cada vez mais
curto, insignificante, considerado como perda de tempo roubado ao esforço
intelectual.
Será preciso
recordar que o patrono dos Párocos é exatamente um homem intelectualmente
limitado – o santo Cura d’Ars -, a custo ordenado por seu bispo, temeroso do
estrago que sua fraca capacidade humana poderia provocar nos fiéis? E foi
exatamente esse padre da roça que atraiu milhares de fiéis de todos os
quadrantes, a multidão insaciável de sua palavra e humildemente ajoelhada em
seu confessionário...
E Jesus
acrescenta, referindo-se ao Espírito Santo: “Ele me glorificará...” De fato,
não são nossos esforços que darão glória a Deus. Ao contrário, algum sucesso
que chegássemos a alcançar apenas atrairia os olhares sobre nós mesmos,
ameaçados de vaidade e de vanglória.
Se alguém duvida,
examine de perto a vida dos santos. Quase sempre, gente comum: uma mocinha
sensível como a pequena Teresa; um ex-soldado escondido no deserto, como
Charles de Foucauld; uma freirinha a cuidar dos doentes, como Irmã Dulce. Nada
espetacular, nenhuma fulguração da inteligência, nenhum atrativo midiático.
Entretanto, abertos
ao Espírito, abrem novas vias para a humanidade...
Orai sem cessar: “Enquanto
eu meditava, acendeu-se um fogo...” (Sl 39,4)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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