Vossa tristeza se mudará em alegria... (Jo 16,16-20)
Somos um mundo
triste. Quanto maior o aglomerado humano, mais profunda é a solidão.
Interrompido o trabalho, não se sabe o que fazer com o tempo vazio. É este
vazio que procuram explorar as empresas do “entretenimento” [entertainment]. Gastam-se fortunas
procurando meios para “distrair” a multidão depressiva. Filmes, shows, megaeventos regados a luz e cor,
som amplificado ao infinito, carnavais cada vez mais prolongados – tudo se
experimenta para acabar, inevitavelmente, com o travo amargo da decepção.
Ninguém duvida de
que os discípulos de Jesus experimentaram em sua presença a mais plena alegria.
Até os dois discípulos de Emaús (cf. Lc 24,13ss), acabrunhados com a morte do
Mestre, são novamente invadidos por uma abrasadora emoção ao encontrá-lo no
meio da estrada. Ainda antes de o reconhecer, já eram invadidos pela alegria.
Nada a admirar.
Desde o nascimento de Jesus, os anjos vão aos pastores (cf. Lc 2,10) para lhes
anunciar uma “grande alegria” [cháran
megalen, no texto grego]. Mesmo no Antigo Testamento, os profetas acenam
para o povo com uma alegria que brotará como uma nascente das águas: “Com
alegria tirareis água das fontes da salvação!” (Is 12,3). E Jeremias a estende
a toda gente: “A jovem dançará alegremente, e o jovem e o velho também
acompanham! Seu luto mudarei em festa, vou consolá-los, alegrarei sua
tristeza”. (Jr 31,13)
Atenção! Não
confundir a “alegria” oferecida por Jesus com alguma receita de “felicidade” no
sentido meramente humano. A alegria em Cristo é antes uma “bem-aventurança”.
Tanto no hebraico como no grego, este termo traz uma ideia de bênção divina, de
alegria sobrenatural – observa Lev Gillet. E o autor acrescenta:
“Tal é a alegria
que Jesus comunica: alegria prometida aos pobres, aos mansos, aos puros, aos
aflitos. Alegria oposta à alegria habitual dos homens, alegria fundamentada na
reviravolta de todos os valores costumeiros. As bem-aventuranças situam-se em
um plano que ultrapassa o homem. Assim, em relação a nós, elas são
completamente ‘outras’. E isto deve ser procurado e explorado como absoluta
novidade.”
Neste cenário,
começa-se a compreender que a alegria trazida por Jesus pode perfeitamente
conviver com a pobreza, superar a doença, sobreviver às perseguições,
sobrenadar ao mal reinante na sociedade pagã. Diante dessa alegria que brota do
Espírito, o ódio se liquefaz, a amargura se adoça, a depressão evapora.
Se a di-versão
fosse o remédio para nossa tristeza, Jesus não nos teria chamado à
con-versão...
Orai sem cessar: “Meu
espírito está em festa pelo meu Deus!” (Is 61,10)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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