Um centurião, chefe de cem soldados,
acostumado a dar ordens e a vê-las cumpridas. Uma só palavra e basta! Por
certo, já está informado sobre Jesus, o estranho Rabi da Galileia que cura
enfermos e liberta os possessos. Reconhece sua autoridade sobre os males
físicos e espirituais. Este reconhecimento (uma modalidade de fé?) é que o
anima a rogar pelo servo doente.
Ao ver que Jesus de Nazaré faz menção
de ir pessoalmente à sua casa, o militar romano se espanta: não precisa tanto,
basta uma palavra! Um militar conhece o poder de uma ordem de comando. Além
disso, um judeu que entrasse no ambiente “impuro” do estrangeiro, ficaria
também ele ritualmente impuro. E o centurião tem um bom argumento para que
Jesus de Nazaré não visite seu lar, a casa de um estrangeiro, invasor e
“pagão”: “Senhor, eu não sou digno!”
Como não pensar naquele publicano da
parábola (cf. Lc 18,9ss), que sequer se aproximava do altar e, lá do fundo do
Templo, olhos no chão, batia no peito e se rebaixava diante do Senhor: “Tem
piedade de mim, que sou pecador”? E sua humildade tocou os ouvidos de Deus...
Não é sem motivo que nossas
Eucaristias costumam começar por um ato penitencial. É, talvez, uma tentativa
desesperada da Igreja para nos recordar nossa condição de pecadores,
habitualmente esquecida. Espera-se que, batendo no peito, examinando a própria
consciência, nós desistamos da impropriedade de cobrar alguma coisa de Deus, ou
de apresentar-lhe nossos méritos (aliás, inexistentes) ou, mesmo, reclamar
asperamente do Senhor pela má qualidade dos serviços que Ele nos presta...
Como nos faz falta esse sentimento de
indignidade! O sentimento do pródigo que volta para casa com um discurso
ensaiado: “Já não sou digno de ser chamado teu filho... Podes tratar-me como um
dos empregados...” (Lc 15,19.) Tudo isso para ouvir, surpreso, a inesperada
resposta do Pai misericordioso: “Não tem jeito, meu filho! Enquanto eu for Pai,
tu serás meu filho!”
É assim que se descobre a verdade
fundamental em nossa relação com Deus: não somos amados porque somos bons;
somos amados porque somos filhos... Não é por mérito nosso. É pelo amor do
Pai...
De que maneira eu costumo
apresentar-me diante de Deus? Desfio o longo rosário de minhas boas ações e
cobro retribuição? Ou simplesmente confesso meus pecados e recebo o seu perdão?
Orai sem cessar: “Junto ao Senhor se acha a misericórdia!” (Sl 130,7)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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