terça-feira, 12 de julho de 2016

PALAVRA DE VIDA

Ai de ti! (Mt 11,20-24)

           O Evangelho de hoje mostra um lado “sombrio” na pregação de Jesus. O mesmo Rabi que cantou as bem-aventuranças para os pobres, os que choravam, os que tinham sede de justiça, desta vez despede “mal-aventuranças” sobre aqueles que não reconheceram os sinais do Messias em seu meio.

            Obviamente, não são pragas nem maldições, impossíveis em um coração feito de misericórdia. Estas cominações apenas registram um risco que todos nós corremos nesta vida: deixar passar uma graça que não volta. Perder o bonde da salvação. Desperdiçar as oportunidades que Deus oferece gratuitamente a cada pessoa que vem a este mundo.
            É assim que Jesus chega ao extremo de cotejar Corozaim e Betsaida – duas cidades do povo escolhido por Deus – com Tiro e Sidônia, duas cidades da Fenícia, região habitada por um povo idólatra e politeísta. E, nesse paralelo, as cidades judaicas levam a pior: receberam a mais e não corresponderam aos excessos do amor de Deus...
            Esse tipo de pregação devia acender um profundo ódio entre os ouvintes da Galileia, pois os hebreus se sentiam superiores aos povos vizinhos e únicos destinatários da salvação. Em Tiro, por exemplo, conhecido porto e centro comercial, explorava-se um molusco marinho (o múrex) para a produção da valiosa tintura de púrpura. Verdadeiras montanhas de carapaças desse molusco acumulavam-se na praia da região, exalando forte mau cheiro. Os judeus consideravam a região como impura e inabitável para um fiel. A comparação feita por Jesus acenderia muitas iras...
            O tom de certa mágoa nas palavras do Mestre manifesta uma constante de seus sentimentos: a profunda tristeza de ser rejeitado pelo seu próprio povo. O Evangelho de São Lucas, de modo especial, repetirá elogios aos estrangeiros que demonstravam mais fé que os “de sua casa” (cf. Lc 4,23-27; 7,9; 17,18; 23,47).
            A Igreja – o novo Israel – também corre o risco de se vangloriar como “povo escolhido” e ignorar os sinais que o Senhor realiza em seu meio, chamando a uma contínua conversão. Podemos ignorar Jesus que passa disfarçado em nossas ruas, enquanto celebramos um culto sem alma.
            Deus permita que nós não acabemos ouvindo a mesma lamentação: “Ai de vós!” Fiquemos atentos aos apelos amorosos do Senhor...
Orai sem cessar: “Minha felicidade é estar perto de Deus!” (Sl 73,28)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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