Ninguém conhece o Pai... (Mt 11,25-27)
A gente acaba se acostumando com os
Evangelhos... É uma pena! Uma frase como esta deveria sempre nos impactar e
questionar permanentemente a nossa acomodação religiosa: “Ninguém conhece o
Pai!” Ou, em primeira pessoa: “Eu não conheço o Pai...”
De início, lembrar que nos textos
bíblicos, desde o Antigo Testamento, o verbo “conhecer” [gr. gignosko, cf. Lc 1,34] aponta para as
relações íntimas entre a esposa e o esposo. E é exatamente esta ausência de
“intimidade” que ainda nos impede de conhecer o Pai, como somente o Filho pode
conhecer (cf. Mt 11,27).
Pobre Pai! Fonte de amor derramado
sobre toda a Criação, inesgotável torrente de vida injetada no barro dos
humanos, e permanece um desconhecido! É esse des-conhecimento que está na raiz
de tantas imagens deformadas de nosso Deus.
Muitos o veem como um policial pronto a punir, um juiz severo
disposto a condenar. Outros o consideram uma divindade olímpica, aérea,
restrita às nuvens celestes, indiferente ao drama terrestre. Para muitos
acadêmicos, Deus se resume a um arquiteto, de régua e compasso, que projetou o
mundo e se retirou à merecida aposentadoria. E ainda persistem aqueles que
classificam a Deus como fluida energia do Cosmo, negando-lhe toda existência
pessoal...
Foi assim que as trevas da
ignorância levaram sociedades inteiras a ter medo de Deus. A tentar
domesticá-lo por meio de oferendas ou sacrifícios cruentos. À tentativa de
comprar seus favores com ouro, prata ou sangue. Ou – recurso extremo de
governos ateístas! – erradicar de jovens e crianças a simples imagem de Deus...
Na União Soviética, a água benta exposta na entrada das
igrejas era analisada para mostrar às crianças que ali havia bactérias, de modo
a provocar nelas uma reação de repulsa. Eram as bactérias comuns que existem em
qualquer água disponível no planeta...
E o Pai não desiste. Em seu desígnio
amoroso, envia-nos seu próprio Filho, “rosto da misericórdia divina”, para que
na face humana de Jesus nós pudéssemos contemplar os reflexos de Amor infinito.
Daí, a resposta de Jesus a Filipe: “Quem me vê, vê o Pai”.
A Face de Jesus é nosso atalho para
o Pai...
Orai sem
cessar: “Senhor, que eu me conheça, que eu te conheça!” (S. Agostinho)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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