Eu quero a misericórdia... (Mt 12,1-8)
As palavras de Jesus
nos situam diante de dois polos que se excluem: misericórdia X sacrifícios.
Como pano de fundo, a atitude legalista dos fariseus que entendiam a relação
com Deus como algo baseado no mérito, no cumprimento de normas, em gestos
rituais despidos de alma.
A “novidade”
apresentada por Jesus está ancorada na evidência (para ele!) de que o impulso
“natural” de Deus é o perdão, a acolhida, a salvação. E não porque seríamos
bons, mas porque o próprio Deus é bom...
Enquanto os israelitas
esperavam comover o céu com o incenso que subia, era Deus quem descia até os
homens na pessoa de seu Filho. A salvação não era conquista, era Graça.
Daí, as palavras do
Papa Francisco ao lançar o Jubileu da Misericórdia: “Precisamos
sempre contemplar o mistério da misericórdia. É fonte de alegria, serenidade e
paz. É condição da nossa salvação. Misericórdia: é a palavra que revela o
mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia: é o ato último e supremo pelo
qual Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia: é a lei fundamental que mora no
coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no
caminho da vida. Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre
o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do
nosso pecado”.
Uma perversão da
mensagem cristã pode rebaixá-la a simples moralismo, a mera tábua de valores
éticos, quando, na verdade, o Evangelho de Jesus supera toda ideia de mérito
acumulado diante de Deus. Francisco insiste:
“Diante da visão duma justiça
como mera observância da lei, que julga dividindo as pessoas em justos e
pecadores, Jesus procura mostrar o grande dom da misericórdia que busca os
pecadores para lhes oferecer o perdão e a salvação. Compreende-se que Jesus,
por causa desta sua visão tão libertadora e fonte de renovação, tenha sido
rejeitado pelos fariseus e os doutores da lei. Estes, para serem fiéis à lei,
limitavam-se a colocar pesos sobre os ombros das pessoas, anulando porém a
misericórdia do Pai. O apelo à observância da lei não pode obstaculizar a
atenção às necessidades que afetam a dignidade das pessoas”.
Contas zeradas,
faturas rasgadas, perdão distribuído – eis o programa de um Jubileu da Misericórdia.
Perdoados no muito, por que não perdoaríamos no pouco?
Orai sem cessar: “Mostrai-nos, Senhor, a
vossa misericórdia!” (Sl 85,8)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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