A melhor parte... (Lc 10,38-42)
“Quem parte, reparte e escolhe a
melhor parte” – garante o ditado popular. No fundo, trata-se de uma escolha que
se faz. E nossa vida é toda ela feita de escolhas...
Neste Evangelho, duas irmãs – Marta
e Maria – fazem suas escolhas: cuidar das tarefas caseiras ou ficar aos pés de
Jesus. Não que as duas opções sejam radicalmente exclusivas, mas a diligente
Marta sente motivos para reclamar de Maria, que escolheu diferente.
Vale a pena refletir nas palavras do
monge André Louf sobre esta passagem.
“A certa profundidade, temos o
direito de escolher o amor, sem condições, e deixar qualquer outra coisa para
dedicar-se a ele em definitivo, pois esta é a parte que jamais nos será tirada,
que dura para a eternidade. A certa profundidade, o Amor se torna gratuito. E
em todo lugar onde Jesus percebe essa gratuidade, ele se faz o seu defensor.
É o caso do alabastro da outra Maria
e dos perfumes derramados em perda total sobre os pés de Jesus, e cujo
altíssimo preço parece roubado aos pobres. Mas os pobres têm mais necessidade
de amor do que de dinheiro. E o amor não tem preço.
Aos pés de Jesus, Maria desocupada, inútil, injusta com sua
irmã mais velha. Mas não existe nada mais urgente que o amor, nem mais eficaz.
Se eu não tenho o amor, nada tenho, dirá São Paulo, ainda que eu distribua
todos os meus bens aos pobres, ainda que eu me gaste pelos outros, mesmo que eu
entregue meu corpo às chamas (cf. 1Cor 13). Mais urgente, mais eficiente é
assumir o tempo de amar.”
Lá no fundo, ouço queixas. São os eficientes, os
utilitaristas, os práticos, aqueles que carregam nas costas o peso do mundo,
como se fossem indispensáveis para Deus. E Deus não quer o sacrifício, mas a
misericórdia. E onde encontraremos a fonte da misericórdia se não tivermos
tempo para Deus?
Não só na Igreja, não só na família, mas em todos os campos
da vida humana multiplicam-se os “ativistas” – aqueles que apostam apenas na
própria ação, muitas vezes atropelando os outros, assumindo práticas violentas,
incapazes da refletir, incapazes de ouvir, incapazes de... rezar...
Ora, quando Jesus chegar, vale a pena parar e sentar-se aos
seus pés.
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