sexta-feira, 29 de julho de 2016

PALAVRA DE VIDA

 A melhor parte... (Lc 10,38-42)

           “Jesus amava Marta e sua irmã e a Lázaro.” (Jo 11,5) “Amava” [hêgapa, no texto grego] exprime o mais elevado nível de amor que se pode atingir. Não apenas uma atração natural [eros], nem o apego entre parentes [stérguein], nem mesmo a amizade por eleição [philia]. O verbo agapao supera os demais níveis do amor, elevando-se ao estágio espiritual. É o verbo empregado para falar do amor divino: “E tendo amado os seus que estavam no mundo, [Jesus] amou-os [egápesen] até o fim”. (Jo 13,2)

            Era natural, pois, que a presença de Jesus em Betânia, onde costumava descansar periodicamente, fosse recebida com as maiores manifestações de afeto. Existem, porém diferentes maneiras de manifestar esse apreço e essa dileção. Marte foi para a cozinha, pois a hospitalidade oriental assim lhe pedia. Maria ficou aos pés de Jesus, pois assim lhe pedia a sede interior.
            Alguma delas merece reprimenda? Uma das duas está errada? Claro que não. Mas parece que uma gradação até na maneira de acertar... Eis o comentário de Marko I. Rupnik:
            “Não pode haver contraposição entre o serviço – oferecer o pão – e a escuta da Palavra, ou seja, a oração. Trata-se, antes, de uma justa hierarquia entre as duas coisas. Quando Cristo responde ao tentador, no deserto, diz, citando Dt 8,3, que não só de pão vive o ser humano, mas de toda palavra que sai da boca de Deus. Não diz que não se vive de pão, mas não se vive somente de pão. Quando cura a menina de Jairo, ordena aos pais dar-lhe de comer (cf. Lc 8,55). O que demonstra que a Palavra tem o primado, porque por meio dela tudo foi criado, mas a Palavra inclui também o pão.
            Por essa razão, uma vez garantido o primado de Deus, todas as coisas encontram seu lugar de modo orgânico, sem antagonismos nem dispersão. Justamente o episódio de Marta e Maria, no Evangelho de Lucas, encontra-se depois do relato do bom samaritano e pouco antes do ensinamento do pai-nosso. E logo depois do pai-nosso temos a perícope do amigo importuno, que pede justamente comida.
            Também a partir dessa composição, é visível a ausência de qualquer contraposição entre contemplação e ação, oração e serviço, mas a questão é a de amar a Deus com todo o coração e ao próximo como a nós mesmos.”
            E aprendemos que muita agitação vale menos que uma só coisa...
Orai sem cessar: “Eu sou para o meu amado...” (Ct 6,3)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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