Desconcertante esta parábola! Uma
das muitas que Jesus usou para nos passar algo que está além da humana
capacidade de compreensão: a natureza do Reino dos Céus. A raiz do problema é
que nossos idiomas foram construídos para recortar o mundo material: seres,
qualidades, dimensões e quantidades DESTE MUNDO. Ao usar nossa linguagem para
falar do ALÉM, das realidades espirituais, tudo cai por terra. Nesta
parábola – a dos trabalhadores da vinha -, o que deve cair por terra é o nosso
senso de justiça humana.
Os operários começam a labuta ao
clarear do sol. Outros, às 9 da manhã. Outros ao meio-dia e às três da tarde. E
ainda chamou outros restando apenas uma hora de luz para o trabalho: a undécima
hora, 5 da tarde. Aos primeiros, o patrão prometeu salário normal: um denário.
Aos outros, “o que fosse justo”.
Finda a jornada, hora do acerto,
surpresa! Opatrão pagava a jornada
integral a todos, mas ainda (não é uma provocação do próprio narrador, Jesus?)
começava pelos que trabalharam apenas uma hora, já na sombra do pôr do sol...
Natural, os
demais começam a “chiar!” Não era justo! Ao menos segundo a “justiça” humana,
distributiva, toda cálculos e aritmética. Reunidos em piquete diante da casa do
patrão, que ignora as regras elementares da isonomia salarial, os operários
gritam em altas vozes o seu descontentamento.
E Jesus
Cristo sorri do impacto que suas histórias causavam no auditório. Afinal, eram
judeus, herdeiros das promessas da Aliança. Sim, esse povo esperava pelo
Messias, “labutando” desde a madrugada da história da salvação. Agora, em novos
tempos, vem a reles samaritana ou a siro-fenícia “impura” e se habilita a
receber o mesmo “salário”, isto é, a mesma salvação?! Não era justo!
Sim, parece
desigual e injusto a quem não conhece o coração de Deus. Um coração que ama a
todos, sem distinção. Não porque são bons, mas porque Ele – Deus – é bom. Não
os salva por méritos de gente esforçada que suou a camisa “toda a jornada”, a
vida inteira, mas porque aceitam as condições do dono da vinha, ainda que o
façam na prorrogação da partida que está em jogo...
Se alguém
duvida do “sistema de retribuição” do Patrão, favor recordar que o Reino em
questão foi inaugurado por um vil ladrão, crucificado após uma vida de crimes.
Aquele que nós - com boa dose de preconceito - chamamos de BOM ladrão, tentando
fazer dele uma exceção.
Vamos para a
vinha do Senhor? Ainda é tempo!
Orai sem cessar: “É eterna,
Senhor, a vossa bondade!” (Sl 138,8)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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