Negue-se a si mesmo! (Mt 16,24-28)
Trata-se de um imperativo? Sim. Mas
não é uma obrigação. Esse estranho mandamento vem logo após uma cláusula
condicional: “Se alguém quiser vir após mim...” É em plena liberdade, com plena
consciência, movido pelo amor, que alguém professará esta autonegação.
Se eu fosse um pouco mais coerente,
certamente não manifestaria tal estranheza diante do imperativo de Jesus:
negar-me a mim mesmo... É que nós fazemos exatamente isto, todos os dias, por
interesse, por medo, por dinheiro. O patrão me humilha, mas eu temo suas ordens
imperiais; por isso, nego-me a mim mesmo e abaixo a crista. O marido despreza a
esposa, mas ela acostumou-se a depender de sua tutela; por isso, não levanta a
voz. Meu trabalho me esgota, exige muito de mim, toma todo o meu tempo, mas
como preciso de meu salário, fico firme.
É hora de pensar: e se nós
fizéssemos isto por AMOR? Se o discípulo está apaixonado por seu Mestre, achará
fácil negar-se a si mesmo, abrir mão dos valores do mundo e, assim, dispor-se a
assumir a mesma missão de seu Mestre. Até o fim. Até a cruz. Até a morte.
Aliás, a jovem apaixonada não deixa
a segurança e os afetos do lar paterno para iniciar uma vida nova (cheia de
riscos e incertezas!) com seu marido? E não se mostrará disposta a trabalhar
duro, apoiar o amado, acolhê-lo ao final do dia... só por amor? O jovem
apaixonado não deixará o estilo light da vida de solteiro para se casar,
assumindo os deveres e responsabilidades da vida nova... só por amor? Não é por
amor que as mães sofrem os incômodos da gravidez e as dores do parto? Só por
amor?
Aqui está a nossa falha original:
olhamos para a cruz e só percebemos a dor, o sofrimento, o sangue derramado.
Não percebemos o amor. Vemos no Crucificado apenas uma vítima da maior
injustiça de todos os tempos. Não percebemos nele o maior gesto de amor de toda
a História...
Sim, quando Jesus nos convida
(agora, parece mais um convite...) a abrir mão de nossos próprios interesses,
projetos, comodidades, no fundo, bem no fundo, Ele pergunta até onde vai a
nossa capacidade de amar? E a resposta a seu convite dividirá a humanidade em
dois grupos: os que amam e os que SE amam. Os que vivem para o Amor. E os que vivem
para si mesmos...
Em que grupo eu me reconheço?
Orai sem
cessar: “Senhor
Jesus, ensina-me a amar!”
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário