Isto não te acontecerá! (Mt 16,13-23)
Pedro, movido pelo Espírito Santo,
acabara de reconhecer em Jesus o Filho de Deus. Seu ministério na Igreja
acabara de lhe ser revelado. Deve ter-se alegrado com a hipótese da primazia
entre seus pares. Mas não está disposto a aceitar o anúncio da Paixão e Morte
do Senhor. Daí, sua falsa profecia: “Isto não te acontecerá!”
Ora, neste exato momento, Simão, a
Pedra, torna-se pedra de escândalo, aquele calhau que faz tropeçar e cair. Por
isso mesmo, merecerá do Senhor o nome do adversário: Satã. Até então, devia
alimentar projetos que não coincidiam com os desígnios de Deus. No inconsciente
coletivo de Israel, pulsava o sonho de um Messias vencedor, que livrasse o povo
do tacão romano. Natural que Pedro não fosse capaz de ver o sofrimento e a cruz
como um caminho de salvação. Natural que preferisse a glória, aplausos e
poder...
Nós não somos diferentes. Por certo,
temos repetido em nosso íntimo: “Isto não ME acontecerá!” Ao nosso lado, o
sofrimento campeia: desemprego, enfermidades, perseguições, divórcios,
traições... Mas conosco será diferente, pensamos. “Eu não mereço uma cruz
assim. Deus não vai fazer ISSO comigo!”
Ora, Deus sabe muito bem o que é bom
para nós. Sabe do notável potencial de salvação embutido na Cruz. Por isso
mesmo, não despreza a “pedagogia” da dor, capaz de reorientar a vida de quem
deixou as coisas eternas nas últimas linhas de sua agenda. Assim, se for para
nosso bem, para nossa salvação, a Cruz baterá à nossa porta.
E que bom se nos decidirmos a
abraçá-la, tal como Jesus Cristo abraçou a sua!
Que bom se pudermos dizer a Deus a mesma oração que Jesus dirigiu ao
Pai: “Se possível, afasta de mim este cálice; mas não se faça a minha vontade
e, sim, a tua...”
Nesse dia, então, teremos alguma
coisa para oferecer ao Senhor. Reconhecendo nossa vida como uma missa, nossa
pessoa como um altar, apresentaremos a nós mesmos como vítima espiritual (cf.
Rm 12,1), hóstia agradável ao Pai, em união com o Filho, Cordeiro imolado.
Como temos recebido as pequenas
cruzes que Deus nos apresenta?
Orai sem
cessar: “Meu
sacrifício, Senhor, é um espírito contrito!” (Sl 50,19)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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