Nem em Israel!
(Lc 7,1-10)
O povo de
Deus sempre foi um povo privilegiado. Israel sempre merecera um tratamento preferencial
do Senhor Yahweh. Naturalmente, favor puxa favor. Amor com amor se paga. Assim,
exatamente de Israel é que o Senhor deveria esperar uma resposta mais pronta, um
“amor de noivado” (cf. Jr 2,2).
Parece,
porém, que esse povo acabou mimado... Acostumou-se a grandes milagres, como o
Sol parado em sua órbita, o Mar Vermelho esgotado para que os hebreus passassem
a pé enxuto, 40 anos de maná no deserto, matando a fome do povo.
Quando viesse
Jesus, possível Messias, eles condicionariam sua adesão na fé à demonstração
espetacular de sinais, milagres e portentos. Jesus, entretanto, não se dobrará
às pretensões deles. O único “sinal” seria o do Profeta Jonas: após uma descida
ao abismo da morte, voltar à vida “ao terceiro dia”.
Enquanto
isso, os estrangeiros (quer dizer, os goyim, os de fora, os não-povo)
iriam surpreender a Jesus com seus atos de fé: a siro-fenícia que se satisfaz
com as migalhas que caem da mesa hebraica / o leproso estrangeiro, o único dos
dez, que voltou para agradecer a cura / e este centurião romano, que sequer
exige a presença de Jesus em sua casa, mas crê que o Rabi tem o poder de curar
à distância.
Em todos
estes casos, o Rabi da Galileia manifesta sua admirada surpresa diante dos atos
de fé algo inesperados em estrangeiros, que não podiam apoiar-se na experiência
multissecular dos israelitas. Mesmo assim, esses estrangeiros apostavam todas
as fichas em Jesus e... obtinham aquilo que imploravam!
Contudo, não
critiquemos o antigo Israel. Cristãos que somos, nós fomos ainda mais agraciados
com as preferências do Senhor. Temos o santo Evangelho e os sacramentos. Temos
a Tradição e a Doutrina. O exemplo dos santos e o sangue dos mártires. Apesar
de tudo isto, não sei se tal preferência já nos moveu a uma adesão perfeita na
fé... Pode ser que ainda estejamos à espera de “sinais”, aparições, milagres no
varejo...
Hoje, há
pessoas de boa vontade e coração sensível que se dedicam a salvar vidas e
melhorar as condições dos mais pobres. Nós, os privilegiados, podemos viver de
ritos e ignorar os que sofrem. Com certeza, mais uma vez, Cristo contemplará
esses novos “estrangeiros”, admirado de sua capacidade de amar...
Orai sem cessar: “A caridade supre todas as faltas.” (Pr 10,12)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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