Já não mereço... (Lc 15,1-32)
Este Evangelho
nos apresenta o conjunto das três parábolas que Jesus utilizou para falar da
misericórdia. O pastor que sai a campo em busca da ovelha tresmalhada. A mulher
do povo que varre a casa à procura da moedinha perdida. O velho pai que, simplesmente,
espera o regresso do filho fujão.
Como se
percebe, são três diferentes maneiras de ser misericordioso: sair a campo...
varrer a casa... esperar...
A primeira é
a mais fácil, pois até nos empresta um nimbo de heroísmo. Vai o pastor por
brenhas e vales, busca incansavelmente até encontrar a SUA ovelha: ferida,
emaranhada na moita de arranha-gato, berne no focinho. Ela parece em péssimo
estado... Sim, mas é MINHA ovelha. E se alegra ao recuperá-la.
A segunda é
mais trivial, uma empreitada caseira. Quantas vezes, quem mais precisa de nossa
misericórdia está bem ao lado, debaixo do mesmo teto. O casebre é pequeno, a
lamparina de azeite mal o ilumina. A vassoura de folhas de tamareira permite
reencontrar a moeda, escapada do véu de moedas que ainda recorda à sua dona a
remota cerimônia do casamento. Moedinha pequena, de parco valor, azinhavrada,
talvez, mas SUA moeda. Não admira que as vizinhas cheguem a zombar da alegria
de sua dona.
A terceira é
a mais dura de viver. Um filho não é uma ovelha. Não é moeda de metal. Tem
arbítrio, vontade própria. Só resta ao velho pai... esperar... Uma esperança
sem garantias, mantida a pulsar no coração, mesmo contra toda evidência.
Voltará o filho algum dia? Não há certezas, mas o amor não vive de certezas. O
amor é capaz de fazer apostas e... esperar...
De volta à
casa do pai, o filho que pecou avalia que não é mais possível recuperar a
estatura filial: “Não mereço ser tratado como filho... Trata-me como um dos
empregados...” Mal sabe ele que o Pai continua pai. “E enquanto eu for pai,
você continua a ser meu filho...” É da natureza de Deus ser um Pai. Nada que
possamos fazer apagará sua imagem paterna. Daí o beijo, a roupa nova, os
sapatos, o anel – sinais da filiação recuperada...
Sair a
campo... Varrer a casa... Esperar... Todos os dias nós temos oportunidades de
amar e de exercer a misericórdia. Alguém anda perdido em seus descaminhos e, a
qualquer momento, poderá apresentar-se à nossa frente.
Quando isso
acontecer, como reagiremos?
Orai sem cessar: “Todos os caminhos do Senhor são
misericórdia...” (Sl 25,10)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário