Púrpura e linho... (Lc 16,19-31)
Neste
Evangelho, estamos na Palestina romana. Os tecidos de púrpura vinham da
Fenícia: na região de Tiro e Sidônia produzia-se a tintura extraída de um
molusco do Mediterrâneo, o múrex. Os tecidos de linho eram importados do
Egito. Nada que estivesse ao alcance do homem comum. Luxos da elite! Com duas
rápidas pinceladas – púrpura e linho – o evangelista São Lucas
mostra o refinado “padrão de vida” do ricaço.
Na escadaria
de mármore da mansão, chagas e cães. E o pobre Lázaro, a única personagem das
parábolas de Jesus que mereceu um nome próprio. A tal ponto que seu nome passou
a ser usado como sinônimo de “leproso”. Mesmo no interior do Brasil, os
hospitais que acolhiam os enfermos do Mal de Hansen eram chamados de
“lazaretos”.
Lá dentro,
esplêndidas festas. Fausto e desperdício. Cá fora, miséria e fome. Dor e
abandono. Mas era uma situação provisória, como tudo o mais nesta vida. Afinal,
todos acabam morrendo um dia: ricos e pobres. Também estes morreram: Epulão e
Lázaro. E de pronto a situação se inverte: este último, repousa no seio de
Abraão (metáfora para nosso céu); aquele, geme no inferno, “em tormentos”.
A linguagem
simbólica da parábola apenas indica que os fossos que cavamos neste mundo
temporal permanecem intransponíveis na eternidade. As pontes que não estendemos
nesta vida, são impossíveis na outra.
Vendo
baldadas suas tentativas de obter algum alívio em suas penas, o ricaço pede que
seus irmãos (são outros cinco, vivendo a mesma vida!) recebam um aviso do
além-túmulo. Uma mensagem assim, meio “espírita”, teria – pensa ele - a
capacidade de chocar e despertar aqueles indiferentes...
De qualquer
modo, seu pedido não é atendido. Afinal, seus irmãos já receberam inúmeros
recados, repetidos avisos ao longo da história de Israel: Moisés e Isaías
ficaram roucos de tanto gritar, mas não foram ouvidos. Ora, se a Lei e os
profetas não conseguiram mover os corações de pedra, nenhum fantasma o
conseguiria...
A lição
parece bem clara: nossa fria indiferença diante dos mais necessitados poderá
custar muito caro. E é exatamente o pobre que convive conosco quem nos pode
assinar o passaporte para o céu...
Orai sem cessar: “A ti, Senhor, o pobre se encomenda.” (Sl
10,14)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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