Nas mãos dos homens... (Lc 9,43b-45)
Para
nos salvar, foi extremo o amor de Deus. Abandonou-se de fato à sua
“filantropia”, o amor pelo humano. Isto se percebe com nitidez quando
contemplamos o impenetrável mistério da encarnação do Verbo de Deus. O Filho de
Deus “desce” à Terra e entra em nossa História. E vem entregar-se passivamente nas
mãos dos homens.
Os
ícones orientais da Natividade de Jesus (na verdade, seu título grego é “Gênnesis”,
pois ali os iconógrafos veem o nascimento do Novo Adão, o primeiro
representante de uma nova raça!) mostram ao espectador o Menino recém-nascido
nas mãos das parteiras. Maria, Virgem e Mãe, repousa na gruta de Belém. Uma
bacia (quase sempre no formato de uma pia batismal) foi preparada para o
primeiro banho da criança. Ele é o Filho de Deus, mas, humanado, depende até de
higiene corporal!
O
ícone da Galaktotrophousa (a que alimenta com leite) mostra o Menino nas
mãos da Maria, sendo por ela amamentado. O ícone da Apresentação no Templo
fotografa a divina criança nos braços do velho Simeão, representando a Primeira
Aliança, que há séculos aguardava pelo Messias Salvador. Os ícones da Paixão
mostram Jesus entregue às mãos sangrentas de seus algozes. O ícone da
Crucifixão mostra as mãos de Cristo cravadas no madeiro. Os ícones da
Ressurreição mostram as mãos da Madalena, a pecadora, que tentam reter o seu Rabbuni.
No Cenáculo, a mão direita de Tomé toca o lado aberto pela lança.
Apenas
filigranas ou detalhes estéticos? Claro que não! Estes são repetidos sinais do
abandono e do despojamento – a kénosis – que Jesus Cristo aceitou para
nos salvar. Foi em nossas mãos que ele se entregou. Mãos ásperas de pescador,
como as de Pedro. Mãos duras de guerrilheiro, como as do zelota Simão. Mãos sórdidas
de traidor, como as de Judas Iscariotes. Na verdade, Jesus Cristo abriu mão de
escolher as mãos que o tocariam. Movido por um infinito amor, ele decidira ir
até o fim... (Cf. Jo 13,1.)
Ainda
hoje, em nossas celebrações eucarísticas, Jesus se entrega nas mãos do
celebrante. Abandona-se nas mãos dos ministros da Comunhão, que o levam até os
enfermos. E se deixa recolher sem reservas nas mãos de cada fiel que o recebe
em comunhão.
E
nós? Ousamos nos abandonar nas mãos de Cristo? Ou ainda preferimos escolher o
nosso próprio caminho?
Orai sem cessar: “Meu destino está nas vossas mãos...” (Sl
31,16)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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