Então, enxergarás
direito... (Lc 6,39-42)
É bem humana
a nossa inclinação a apontar os erros dos outros. Certamente, ao realçar os
pecados de nossos irmãos, lançamos uma cortina de fumaça sobre os nossos
próprios pecados. É como se os erros de terceiros viessem a nos consolar de
nossas próprias falhas: “eu sou... mas quem não é?”
Até nossos
filhos, quando repreendidos por seu comportamento impróprio (atitudes
grosseiras, palavrões, roupas ousadas, pequenas trapaças, mentiras defensivas, colar
nas provas...), tentam defender-se com o velho argumento: “todo mundo faz!”
Curiosamente,
estamos sempre dispostos a estender um dedo acusador contra dirigentes
corruptos e deputados que legislam em causa própria. Se, no entanto,
examinarmos nossa vida pessoal, veremos que também estamos sempre dispostos a
levar pequenas vantagens. Coisas banais, como “furar” a fila, regatear nas
compras, gastar fosfatos para reduzir nossos impostos e – não podia faltar! –
valer-nos de um “caixa 2”...
Fedro, um antigo
fabulista latino, comentava que, quando entramos neste mundo, Júpiter, o deus
supremo do panteão greco-romano, pendura em nós duas mochilas: em nossas
costas, uma grande mochila, com nossos vícios pessoais; em nosso peito, outra
mochila bem menor, com nossas virtudes. Daí, nossa facilidade em perceber e
acusar os pecados alheios, fazendo vista grossa para os nossos...
No Evangelho
de hoje, Jesus contrasta o pequeno (o cisco) e o grande (a trave de madeira).
Apesar da enorme trave em nossos olhos, insistimos em denunciar o minúsculo
cisco que atrapalha a visão do próximo. A sugestão do Mestre é que iniciemos um
processo de conversão, fazendo penitência por nossas “traves”, purificando
nosso olhar. Depois – quem sabe? – teríamos condição de ajudar os irmãos a
enxergarem melhor.
Enquanto não
aceitamos essa proposta, mereceremos de Jesus o rótulo de “hipócritas”: aqueles
que usam máscaras, como os atores do teatro grego, simulando por fora
sentimentos que, de fato, não existem em nosso íntimo. Como diriam nossos
sábios avós: “por fora bela viola, por dentro pão bolorento”...
Que pena! A
caridade não combina com críticas e acusações...
Orai sem cessar: “Diante de ti, Senhor, pões nossas culpas,
E
nossos pecados ocultos à luz do teu rosto.” (Sl 90,8)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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