Amarás! (Lc
10,25-37)
Imagino o
filho que se aproxima do velho pai e lhe pergunta: “Pai, que devo fazer para
receber a tua herança?” Imagino também a resposta do Pai: “Puxa vida, meu
filho! Eu ainda estou vivo e você já está de olho em minha herança? Por que
você não deixa de lado a ideia da herança e aproveita meu restinho de vida para
me amar?”
Algo
semelhante acontece neste Evangelho. O doutor da lei faz a Jesus uma pergunta
que tem como centro a “ação”: - “O que hei de fazer para receber como herança a
vida eterna?” Como pano de fundo, o velho conceito de que o “céu” se recebe
como retribuição, uma espécie de pagamento, pelo bem que fizemos neste mundo.
Somos honestos, não matamos nem roubamos, damos aqui e ali uma esmolinha e, ao
final da vida, verificamos o saldo a nosso favor. A seguir, preparamos a
fatura, a duplicata, o borderô e... cobramos a Deus o céu que merecemos. Pura
contabilidade! E ai de Deus se não pagar a sua dívida!
Quanta
ilusão! Assim, diante da pergunta do doutor da lei, preocupado em ter a lista
de boas ações que lhe permitiriam investir na eterna recompensa, Jesus responde
com um imperativo direto: “Amarás!” Sim: “Amarás ao Senhor teu Deus, com
todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com toda a
tua mente, e ao teu próximo como a ti mesmo!”
Que susto
leva o doutorzinho! Não é uma questão de “fazer”, mas de “amar”. E um amor
pleno, cabal, totalizante, que envolve a pessoa por inteiro: coração, alma,
forças e mente! A pessoa arrastada para fora de si mesma, impelida pelo amor na
direção do outro, onde Deus se encarna.
Se
analisamos com atenção a vida dos santos, podemos ficar chocados por tudo
aquilo que ali encontramos de “comum”. Fraquezas, indecisões, idas-e-vindas no
caminho espiritual, explosões temperamentais, tempos de frieza e depressão. Mas
há uma constante em todos eles: a decisão de amar. Uma caminhada “ex-cêntrica”,
centrífuga, saindo de si, abandonando suas preferências, esquecendo suas
comodidades e vantagens, para trocar tudo pela moedinha do amor.
Por trás de
nossas boas ações, pode haver vaidade, busca de aplauso, interesses pessoais.
Mas, quando morremos para nós mesmos e nos deixamos moer e transformar em
hóstias vivas, aí começamos a semear o amor...
Orai sem cessar: “No coração da Igreja, serei o
Amor!” (S. Teresinha)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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