E serás feliz... (Lc
14,12-14)
Desconcertante esse Mestre! Duras as
suas palavras! Ele insiste em trafegar na contramão do mundo. A cada passo, seu
Evangelho denuncia sem disfarces o nosso paganismo...
Agora, vem Jesus com uma nova
“receita de felicidade”: dar a quem não pode retribuir, emprestar a quem não
pode pagar, acumular um crédito que só se salda além da morte...
Ora, amado Mestre, quem disse que
estamos assim tão preocupados com o “outro mundo”? Quem lhe garante que ainda
cremos nessas realidades espirituais? A turma está de olho, mesmo, é no
pão-nosso-de-cada-dia! Gastamos todo o tempo e todo o sangue para “faturar”,
poupar, acumular, fazer render. Os pobres nos incomodam com todo esse
pedinchório: chegamos a mudar de calçada para escapar daquelas mãos vazias!
Erguemos altos muros para mantê-los à distância.
E vem o amado Mestre a nos dizer que
a felicidade é de outra natureza? Quer dizer, então, que um bom pé-de-meia não
garantirá nossa felicidade? Uns bons amigos no Governo não facilitarão a nossa
vida? Umas companhias alegres e descompromissadas não farão mais divertidas as
nossas noitadas? Um título de sócio patrimonial não nos trará a paz interior?
Bem, lá no íntimo, sabemos que o
Mestre tem razão. Mas quem disse que nós fazemos questão de encarar a verdade?
Estamos tão acostumados a mentir. Tão afeitos a participar da vida social como
de um baile de máscaras! “Adivinhe quem sou?”
Mas só o Mestre sabe quem somos. Ele
sabe também quem podemos vir a ser. Sabe que por trás de um Agostinho gozador
se esconde um santo em potencial. Por baixo de um Saulo odioso se oculta um
Paulo apaixonado. Ele sabe...
Aliás, por falar em pobres, não
somos também nós mendigos de amor? Não somos coxos, estropiados, errando em
círculos pelo deserto da vida? Não somos cegos andarilhos que perderam o rumo
do próprio lar? Não estamos famintos de um alimento que dure para sempre?
Por isso mesmo, é a nós que o Senhor
convida: “Felizes os convidados para a Ceia do Senhor!” Bendita a fome que nos
leva à sua mesa! Bendita a pobreza que nos faz seus convidados!
Orai
sem cessar: “Preparas uma mesa para mim...” (Sl
23,5)
Texto de Antônio Carlos
Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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