Peço que me desculpes... (Lc 14,15-24)
Sim, pedir
desculpas pode ser sinal de boa educação. Mas nem sempre. Pode ser outra
coisa...
No caso desta
parábola de Jesus, o que está em questão é o grande banquete oferecido aos amigos
e conhecidos. Está em questão igualmente a qualidade do Dono da festa, ansioso
por celebrar com os amigos. Mas os convidados têm outros interesses...
Há um terreno novo
que foi adquirido e precisa de nossa supervisão. Afinal, quem engorda o gado? O
olho do dono! Há também uma junta de bois – digo, um novo trator – que pede uma
primeira experiência. E há também aquela noivinha cheirosa, perfumada,
ataviada, que não podemos deixar em segundo plano. No caso da parábola, lembrar
que os costumes da Palestina não incluíam mulheres nos banquetes masculinos...
Assim sendo, é melhor ignorar o convite para o banquete e cuidar da vida,
certo?
Seria exagero
afirmar que acontece coisa semelhante com a gente? Que também nós temos nossos
interesses pessoais quase sempre sobrepostos aos convites recebidos? Pense bem:
você é “vidrado” em Fórmula Um... Se você for à missa, certamente perderá o
momento mais emocionante da corrida, a largada. É quando ocorrem colisões,
derrapagens e, às vezes, sangue e fogo. Ora, perder tudo isso só por causa de
uma missa?
E aquela novela da
TV que esconde o segredo sobre o crime acontecido? Quem será o criminoso? Você
foi convidado para o encontro de casais, o que o levaria a perder o último
capítulo... Parece justo desculpar-se, pois não?
Des-culpar.
Retirar a culpa. Apagar a culpa. Tornar-se inocente...
Sei não. Pode ser
que meus interesses “outros” acabem por me deixar culpado de desprezar tantas
oportunidades oferecidas por Deus e pela Igreja...
Com tantas
recusas, ficará vazia a sala do festim? Claro que não! Há muita gente que não
precisa se desculpar, pois sua vida anda vazia de atrativos e de compromissos.
Aquela gentinha das esquinas e dos atalhos, a turma da periferia. Os que não
têm poupanças a controlar nem extratos a verificar. O Evangelho é mais cru:
chama-os de cegos e coxos, pobres e aleijados...
Pois são
exatamente aqueles que pareciam à margem os que acabam introduzidos no salão
nobre e se assentam ao lado do Senhor. Este ficara furioso com o desprezo dos
convidados e declarou bem alto: “Nenhum daqueles que foram convidados provará
do meu banquete!”
Orai sem cessar: “Felizes
os convidados para o banquete das núpcias do Cordeiro!” (Ap 19,9)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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