O Espírito Santo descerá sobre ti... (Lc 1,26-38)
Neste anúncio de Gabriel a jovem
Maria de Nazaré, a humanidade é informada de uma decisão divina: Deus vai
“descer”...
Até então, o Deus de Israel era um
Deus inacessível aos sentidos humanos. Um Deus transcendente, Aquele que mora
nas alturas: o Altíssimo. Era um Deus sem rosto, motivo das queixas do
salmista: “Por que escondes o teu rosto?” (Sl 44,35) E Maria é a primeira a
saber que Deus vai descer ao nosso nível, pisar o nosso chão, tornar-se
imanente, assumir uma Face.
Entretanto, para que Deus desça e
faça contato conosco, ele precisa de um “lugar” no mundo dos homens. Deus
precisa de um porto para “chegar” até nós. Este “lugar” é Maria.
E o anjo entrou em sua casa
(Lc1,28). “Neste simples verbo ‘entrar’ existe todo um mistério, todo um poema,
toda uma relação. Ele supõe um fora e um dentro, e os coloca ali, muito
docemente, diante de nós. O anjo de amplos espaços e de sol pleno no exterior
de Deus, e a Mulher caseira é todo o Interior de Deus: confinada no minúsculo,
ela confina o Infinito.” (F. Trevédy)
Atenção: desde este instante da
Anunciação, não existe mais um Deus “fora de nós”, um Deus exterior, alheio, objectual.
Quando Maria diz “sim”, Deus “entra” em nossa humanidade e se torna um de nós,
membro de nossa raça, na pessoa do Filho encarnado, Jesus Cristo. O Filho de
Deus é também o Filho da Mulher.
Não se busque mais a presença remota
de Deus além dos astros, nos remoinhos do Cosmo; Deus está dentro de nós: feito
carne, o Verbo “habita” em nós (cf. Jo 1,14). Graças à acolhida que o Verbo
teve por parte de Maria de Nazaré, a Agraciada, a Aliança de sangue se torna
possível entre o Criador e as criaturas.
A Anunciação é o instante da
Encarnação. Na pessoa de Jesus, que o Espírito Santo acaba de gerar no ventre
sagrado de Maria, ocorre a intersecção de Deus e do homem. Desde já, a história
da humanidade torna-se a História da Salvação. O Tempo é transfigurado. A
Eternidade nos invadiu.
Assim como ocorreu com Maria, também
nós somos chamados a ser “espaços de Deus”, “lugares” onde Cristo possa
encarnar-se e operar no tecido da sociedade humana de nosso tempo. É em nós,
por nossa carne, que ele terá mãos e pés, voz e presença no mundo dos homens.
Orai sem cessar: “Eu
vivo, mas não eu; é Cristo que vive em mim!” (Gl 2,20)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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