Devo ficar na tua casa... (Lc 19,1-10)
Este Evangelho,
exclusivo de São Lucas, tem como foco exatamente a alegria da conversão. Como
pano de fundo, a certeza de que a condição humana é um processo de
transformação: nunca somos; sempre estamos. Por isso mesmo, erramos gravemente
na tentativa de cristalizar em seu erro o criminoso, ignorando a possibilidade
de ser regenerado pela Graça.
Dirigindo-se a
Zaqueu, o cobrador de impostos pendurado no galho de uma árvore, Jesus o chama
para baixo – “Desce depressa!” (Lc
19,5) – porque chegara a hora de levá-lo para cima. Decaído pela profissão
desprezada por seus compatriotas, corrompido pela ânsia do lucro, qualquer
rótulo que colemos em sua testa ainda será uma injustiça de nossa parte, pois
Jesus está disposto a regenerá-lo.
“Devo ficar na tua casa!” Seria assim –
como um dever – que Jesus encara o
encontro com Zaqueu? Parece que sim. Um dever de amor. O amor gera deveres,
impele ao encontro, tece compromissos.
Ouçamos o
comentário de Urs von Balthasar: “É um quadro singular que nos esboça o
Evangelho: o homem muito rico que sobe a uma árvore para ver Jesus. Como chefe
dos coletores de impostos, ele é considerado um grande pecador, mas é
justamente em sua casa que Jesus quer ser recebido. E Jesus sabe que em toda
parte aonde chega, ele traz a Graça consigo.
‘Hoje chegou a
salvação para esta casa.’ E isto ‘porque o Filho do homem veio procurar e
salvar aquele que estava perdido’. Ele é recebido em casa de Zaqueu porque
havia ali alguma coisa a salvar. Certamente, não porque ali fossem executadas
boas obras a serem recompensadas, mas porque Zaqueu, ‘também ele, é um filho de
Abraão’ que não deve ser excluído da fidelidade e do amor de Deus.
Inútil, pois,
procurar saber se, quando Zaqueu assegura que ele ‘dá metade de seus bens aos
pobres’, esta declaração se relaciona a alguma coisa anterior, ou se é apenas
consequência da Graça que lhe foi manifestada. O evangelista não se interessa
por este problema, mas unicamente pela salvação que Jesus traz àquela casa.
É bom saber que
ele também entra em casa de gente muito rica quando a salvação cristã deve
chegar a eles. A beatitude dos pobres não deve ser interpretada
sociologicamente, mas teologicamente. Há pobres que são ricos em espírito
(espírito de cobiça), e existem ricos que são pobres em espírito (espírito de
serviço, graças a seus bens).”
Orai sem cessar: “Deste
mais alegria ao meu coração!” (Sl 4,8)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário