Até que eu volte... (Lc 19,11-28)
Três servos
recebem 350 gramas de ouro, a ser investido com lucro até o regresso de seu
senhor. Dois se arriscam e multiplicam o valor recebido. O terceiro, movido
pelo temor (e pela preguiça, quem sabe?), prefere manter o ouro a salvo e, por
isso mesmo, será castigado.
Não sei bem se a intenção de Jesus, ao
contar esta parábola, se resumia a uma visão utilitarista (e mesmo
capitalista!), segundo a qual temos de “render conforme o investimento” de Deus
em nossas vidas. No fundo, acho pouco provável... Mas é óbvio que nos é dado um
“tempo” para trabalhar e teremos um “acerto” quando o patrão regressar.
Na verdade, nada
temos de nosso. Tudo é dom. Somos eternos mendigos. Em segundo lugar,
que talentos são esses? Inteligência? Virtudes morais? Saúde? Força muscular?
Recursos materiais? Ora, tudo isso são ninharias diante do verdadeiro
investimento de Deus em nossa vida: Ele-mesmo! Deus se entregou em nossas mãos.
Veio morar no meio de nós. Vestiu-se de nossa carne. E continua presente na
Eucaristia. Isto, sim, é investimento! Alimentados de seu Corpo e Sangue,
inauguramos, já aqui na terra, a vida que experimentaremos na eternidade.
Pode ser que isto
cale mais fundo com a meditação de meu soneto “Dependência”:
Nada tenho de meu. Eu não me iludo
Ao ver frutificar o meu trabalho.
Sei que sou limitado e que sou falho:
É Deus quem age em mim, eu pouco ajudo.
Nada tenho de meu, mas tenho tudo,
Pois nas mãos do Senhor eu me agasalho.
Se me esforço demais, eu atrapalho
Por ocultar da Graça o conteúdo...
Nada tenho de meu, mas tudo tenho:
Meu Pai foi quem me deu saber e engenho,
Transfigurando em luz o meu caminho.
Nada tenho de meu, mas vivo cheio,
Pois o Filho de Deus comigo veio
E, assim, jamais eu estarei sozinho...
Orai sem cessar: “O
Senhor é minha herança e minha parte...” (Sl 16, 5)
Texto e poema de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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