E começou a expulsar...
(Lc 19,45-48)
Neste
Evangelho, um dos raros – raríssimos! – momentos em que o Cordeiro de Deus
manifesta a cólera dos lobos. Por trás de sua cólera, a defesa do sagrado.
Jesus vê a “casa do Pai” travestida em “antro de ladrões” e executa ali uma
inesperada limpeza, lançando fora todos os sinais de profanação: animais,
moedas e vendilhões.
Como
assim? Estes não são tempos de misericórdia? Não é manso e humilde o pastor que
se apresenta a Israel? Como entender que, em lugar de acolher, ele se dedique a
expulsar?
Ora,
por certo a misericórdia não significa uma neutra indiferença diante da
infração do maior dos mandamentos: amar a Deus acima de tudo. Acima do lucro,
acima do negócio, acima das negociatas.
O
pátio do Templo – um espaço intermediário entre o mundo profano e o Santo dos
Santos – era um limiar que só os israelitas podiam ultrapassar, proibido aos
não-povo. Exatamente esse espaço sagrado fora transformado em mercado, em
caravançará, onde se mesclavam os balidos das ovelhas e o fedor do estrume, o
tinir das moedas e os olhares cúpidos dos mercadores. Na expressão do Mestre,
“um covil de ladrões”...
O
lugar que devia estar cheio da glória de Deus, entre os arpejos das cítaras e
as nuvens do incenso, tornara-se vazio de adoração, vazio de louvor, vazio de
glória. Em seu lugar, a ambição, a exploração, a cupidez.
Ainda
hoje, continua permanente o risco de transformar os templos em bazares. Trocar
o Senhor por ídolos. Vender a graça de Deus. Fabricar amuletos. Trocar o Senhor
dos dons pelos dons do Senhor. Ainda hoje há quem vá ao templo à procura de
bens materiais, vantagens econômicas, sucesso profissional. Não mais a terra
sagrada onde se descalçam as sandálias, mas o supermercado da graça onde se
espreme a divindade para mamar o seu leite...
Por
tudo isso, é justo indignar-se. Como diz François Trévedy, “muitas vezes nós
hesitamos em nos indignar, porque nossa cólera arriscaria em fazer voar aos
pedaços, aos olhos do mundo, certa imagem positiva de nós mesmos. E é assim
que, traidores de Jesus - que será levado à morte pelo escândalo provocado por
sua indignação -, nós sacrificamos a Verdade, a Beleza e a Justiça a um
determinado ídolo de nós mesmos”.
E
deve ser por isso que, às vezes, como naquela carta do Apocalipse (cf. Ap
3,16), Deus começa por nos vomitar...
Orai sem cessar: “Eu me prostrarei diante de teu
santo templo!” (Sl 138,2)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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