Se o dono da casa soubesse... (Mt 24,37-44)
Vivemos em tempo
de medo. Cai a noite, trancam-se as portas. Cerca eletrificada, porteiro
eletrônico, câmeras de segurança, guardas na guarita. Nunca se sabe quando virá
o ladrão...
Abrindo mais um
Advento do Senhor, a Igreja não sente medo dAquele que vem: ao contrário, ela
destranca as portas, derruba as cercas e se põe ela mesma na posição do
sentinela que, sobre a muralha, espera pela aurora do Natal.
Eis o comentário
de François Trévedy sobre este Evangelho: “Não, a vigilância que nos ordena
Jesus Cristo não é despertada por um perigo, pelo terror, mas por uma simples
chegada, ainda que seja de um “ladrão”.
É preciso reconhecer que o “Ladrão”
(cf. Mt 24,43; Ap 16,15) de que nos fala o Evangelho não é tão perigoso para
nós e, em definitivo, é bem melhor que ele venha.
Ele não nos rouba
por malícia, mas por amor, por um jogo do qual, um dia, participa todo amor
verdadeiro. Nós olhamos com pânico para aquilo que chamamos de “últimos fins”,
estamos obsedados pelo fim e nem mesmo vemos que o Senhor chega para nós sem
cessar e de todos os lados ao mesmo tempo.
O que provoca a
vigilância cristã não é uma catástrofe: é um acontecimento; é o perpétuo
assalto – em nós e em torno de nós – da Presença pascal de Jesus Cristo. Este
assalto só é perigoso se nós reagimos contra ele, pois Jesus Cristo é
inofensivo para quem entra no seu jogo. [...]
Jesus pode nos
surpreender hoje; e na hora de nossa morte ele nos tomará como sua propriedade;
ele retomará seu bem em nós, pois é bem no interior de nós, já agora, que isto
será tomado e deixado (cf. Mt 24,40-41). Instantâneo como a luz, o Advento de
Jesus Cristo operará – e opera desde já! – o corte transversal da história em
seu conjunto e da vida de cada um de nós.”
Por que alguém
temeria a Luz? Quem teria medo dessa íntima iluminação? Quem amaria tanto as
trevas, a ponto de dar as costas para o Sol nascente? O tempo do Advento é
exatamente um convite a derrubar os muros, abrir mão das próprias defesas,
escancarar as janelas ao Vento da madrugada, pois o Dia já vem.
E Trévedy convida:
“Deixemos Deus fazer uma intrusão em nós, nos invadir, nos demolir, talvez. É a
luz da aurora pascal que faz trincar o túmulo, assim como no estábulo do Natal
abre-se uma fresta para a torrente das estrelas...”
Orai sem cessar: “Senhor, na tua luz veremos a luz!” (Sl 36,10)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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