Isabel
ficou grávida... (Lc 1,5-25)
Toda gravidez é
novidade. Por certo, a maior de todas as novidades ao nosso alcance. É a
gravidez que faz as mães. Ela é que traz os filhos. Ela diz à raça humana que a
vida insiste, perpetua-se no tempo e garante a próxima geração.
Natural, a
“novidade” é ainda maior no caso de Isabel de Zacarias: ela é idosa. Ela é
estéril. Sua gravidez é um milagre. Mais ainda: é sinal de que Deus está em
ação e faz possível o impossível.
Por tudo isso, não
deixa de ser curiosa a reação de Isabel: ela “permaneceu escondida”. Não seria
de esperar que a velha parenta de Maria saísse correndo pelas ruelas de Ain
Karim, proclamando sua “novidade” às amigas e vizinhas? Seria, mas ela prefere
ocultar o segredo do Rei...
De fato, o texto
grego de São Lucas, em sentido literal, diz que Isabel, vendo-se grávida,
“cerca-se de segredo” [periékryben eotèn] (cf. Lc 1,24). Nestes tempos
em que pretensas curas e milagres são transformados em espetáculo na TV para
atrair seguidores (e contribuintes...), a mãe de João Batista celebra em
silêncio, no santuário do coração, a graça especial que recebeu do Senhor: “Ele
dignou-se tirar a vergonha que pesava sobre mim”. (Lc 1,25)
Entre os hebreus,
herdeiros da promessa do Messias, a esposa estéril era uma fracassada, digna de
pena, mas também alvo de irrisão. Podia ser repudiada ou, na melhor das
hipóteses, ter de tolerar uma segunda esposa. Não admira que a Sagrada Escritura
registre vários casos “impossíveis” de gravidez, como Ana, mãe de Samuel (cf.
1Sm 1,2.20) e a mãe anônima de Sansão (cf. Jz 13,2-3.24). É assim que Yahweh se
revela como o Senhor e a Fonte da vida.
Isabel sabe que foi
agraciada. Por isso mesmo, escolhe para o filho o nome de João [no hebraico, Yohanan:
“o Senhor concede graça”], ainda que tal escolha encontre reação nos familiares
(cf. Lc 1,60-63).
No tempo litúrgico
do Advento, à espera do Natal, também a Igreja está grávida de Cristo. Por isso
ela se recolhe, reveste-se de roxo, reduz as flores e faz discretos os
instrumentos musicais. A exemplo de Isabel, a espera do filho prometido deve
cercar-se de profunda vida interior, preparando o júbilo e os louvores dos
anjos de Belém. Grávidos do Natal...
Orai sem cessar: “O
segredo do Senhor é para os que o temem.” (Sl 25,14)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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