A Virgem conceberá... (Is
7,10-14)
Tenho
diante dos olhos uma reprodução do ícone da “Virgem do Sinal”,
inspirado no protoevangelho de Isaías 7, 14. Esta passagem fala do Emanuel,
“Deus-conosco”. Diferente das “Hodighítrias” (como a conhecida N. Sra. do
Perpétuo Socorro, com a mão direita a apontar o “caminho” Jesus), diferente
também das “Eleúsas” (com o Filho no colo, abraçado com ternura, como no ícone
de Vladimir), trata-se de um ícone do tipo “orante”: Maria tem os braços
erguidos para o céu.
No
seu ventre sagrado, em forma de um medalhão, vê-se Jesus, o Emanuel. Mas nada
tem a ver com os “bambinos” do Renascimento italiano. Ele possui estatura de
adulto, vestido de ouro – a divindade – e de púrpura – a realeza. Nas mãos,
traz um rolo, pois Ele é o Verbo, a Palavra de Deus que se encarnaria, nascendo
de Mulher.
A
profecia de Isaías se antecipa ao fato da Encarnação em cerca de 750 anos. Os
profetas “veem” o futuro e, com sua visão, animam o povo a confiar nas
promessas do Senhor. Em um tempo de incertezas, sob a ameaça de inimigos
poderosos que poderiam causar a destruição de Israel, o próprio Rei Acaz busca
segurança em alianças militares com poderes deste mundo. Quando Isaías vai a
seu encontro, o rei supervisionava os trabalhos na captação de água, preparando
um reservatório e prevenindo-se para o cerco de Jerusalém. A velha história de contar
apenas com os recursos humanos...
Acaz se recusa a pedir a Deus um
sinal de sua presença como defensor de seu povo. Isaías, então, retruca com a
profecia desta leitura: “Pois bem, o próprio Senhor vos dará um sinal!” Deus se
“oferece” e dá o sinal que o rei não pediu! O “sinal” é uma impossibilidade
humana: a Virgem conceber! Ainda hoje, este sinal incomoda os racionalistas de
plantão, como se Deus não fosse o Senhor da vida e da morte, das concepções e
das paradas cardíacas!
Mas o que importa é outra coisa:
nosso Deus é um “Deus-conosco”. Isto é, não apenas um Deus entre os homens, em
nosso grupo social, mas um “Deus-na-carne”, que assume por inteiro a nossa
condição. Ao contrário dos deuses do Olimpo, Ele não flutua acima do mundo
real, mas participa plenamente de nossa vida: tem fome e sede, trabalha e sua,
sangra e morre.
Desde
então, o Natal não pode ser visto como lenda piedosa. É o “sinal” do louco amor
de Deus por todos nós...
Orai sem cessar: “Eu vos tomarei como meu povo!” (Ex 6,7)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
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