No dia de curar suas feridas... (Is 30,19-21.23-26)
Nós somos uma raça
ferida. Desde o Gênesis, quando um arroubo de autossuficiência e soberba levou
os primeiros pais à pretensão de “serem como deuses” (cf. Gn 3,5), uma ferida
mortal se instalou profundamente no coração do homem. Foi exatamente para curar
esta ferida que o Filho de Deus encarnado, nascido de Mulher, aceitou todas as
feridas do Calvário. Nosso Deus é um Deus que cura...
O batismo cristão é o
primeiro passo para a “terapia” de Deus, ao nos mergulhar no Jordão de sua Vida
divina. Tal processo de cura não é automático, mas depende em boa parte da
aceitação do próprio paciente, que carrega vida a fora as sequelas dolorosas da
primeira vulneração. São as ásperas sequelas do egoísmo, do ódio, do orgulho,
do desespero, da avidez sem limites, do hedonismo insaciável.
Piedoso, pacífico,
todo misericórdia – em uma palavra: PAI! -, Deus nos dá de presente (o máximo
dom!) seu próprio Filho, Jesus Cristo, como nosso médico pessoal. E não o faz
de fora para dentro, como os médicos que conhecemos: o Filho entra em nossa
carne, tecido célula por célula no ventre sagrado da Virgem Mãe.
Desde então, Ele é um
dos nossos: mesma carne, mesmo sangue, mesmas emoções, mesmos sentimentos. Deus
e homem verdadeiro. Aquela criança que veremos no Natal, sobre a palha do
trigo, estendida no cocho onde os animais lambem o sal, humildemente envolta em
faixas, aquela criança é nossa e é de Deus. Ela nos faz entrar na família do
Pai, que nos adota para sempre.
Assim, para ser
completo, nosso Natal deve ser um verdadeiro tempo de cura. O primeiro passo
dessa terapia consiste em acolher amorosamente o dom que o Pai nos faz de seu
Filho. Acalentando intimamente o pensamento de que somos filhos, seremos
curados do sentimento de solidão, da impressão de abandono, da ilusão de lutar
apenas com nossas próprias forças.
O segundo passo desse
processo terapêutico significa acolher com idêntico amor os irmãos que – também
eles – necessitam de cura e de cuidados. Ao longo da história, muitos já
descobriram que só serão curados quando participarem da cura de outros.
Perceberam também que nossa filiação divina é a única justificativa para a
fraternidade humana. Sem a consciência desta filiação, somos lobos contra
lobos.
Afinal, ninguém será
curado enquanto não se sentir amado...
Orai sem cessar: “Cura-me,
Senhor, pequei contra ti!” (Sl
41,5)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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