O lobo habitará com o cordeiro...
(Is 11,1-10)
Desde a antiguidade, os
fabulistas puseram lado a lado o lobo e o cordeiro como ícones do predador e da
presa. Na conhecida fábula de Fedro, o poeta latino, um cordeirinho inocente
acaba devorado, mesmo sem culpa. Prevalece a “lei do mais forte”. Mais tarde,
um filósofo criaria o amargo refrão: homo homini lupus – o homem é um
lobo para o homem.
Será mesmo impossível a
convivência fraterna? Existirá um determinismo genético que nos impele à
agressão e à exploração do próximo? Estaremos condenados ao medo fóbico que nos
leva a erguer muros com cacos de vidro, cercas elétricas e portões eletrônicos?
Nosso próximo é nosso lobo? Somos o predador de nosso irmão? Seremos
eternamente Abel e Caim?
A profecia de Isaías garante que
não... Ele fala da presença de um descendente de Davi que será o portador do
Espírito de Deus no meio de nós. Ele será reconhecido pelos atributos que o
Espírito Santo manifesta em sua Pessoa: sabedoria e discernimento, conselho e
fortaleza, conhecimento e temor de Deus. Em seu breve sermão na sinagoga de
Nazaré (cf. Lc 4), anunciará que o Espírito do Senhor repousa sobre seus
ombros. E é esse mesmo Espírito de paz e unidade que ele promete a seus
seguidores.
Sua presença será a garantia de
que os inimigos entrarão em acordo, mesmo que, aparentemente, devam violentar
sua natureza agressiva, como na imagem da ursa que pasta junto à vaca e seus
bezerros, em pacífica convivência.
Claro que os céticos estão
rindo... Você ouvem suas gargalhadas? Os desesperados zombam da esperança. Os
fabricantes de armas bradam maldições, pois a paz gera prejuízos para eles. A
simples visão de uma sociedade sem competição e disputas, fundamentada na
partilha dos bens e no serviço solidário – uma sociedade onde o dinheiro não
seja a mediação, e a espada o fiel da balança – causa pesadelos no sono desses
mercadores da morte.
Logo virá o Natal. O Príncipe da
Paz virá como criança indefesa. Neste Natal, teríamos a coragem de nos
identificar com o Menino? Logo a Criança que Herodes tentará assassinar?
Estaríamos dispostos a abrir mão do regime de competição e disputa, onde
retesamos os músculos e arreganhamos os dentes para manter à distância a ameaça
do próximo?
Orai sem
cessar: “O Senhor livrará o pobre que clama!” (Sl 72,12)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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