Teus pecados são perdoados... (Mc 2,1-12)
Não é coisa
nova: já em 1948, o Papa Pio XII nos dizia que o grande pecado do século
consistia exatamente na perda do sentido do pecado. E tinha razão! Um espírito
belicoso é elogiado como comportamento competitivo. Ganância e usura são
chamadas de poupança. A pessoa despudorada é elogiada como “sexy”. O homem sóbrio é condenado como
“sem ambições”. A jovem pura é “quadrada”. A dedicada esposa-mãe, uma
“escrava”...
Lamentável
inversão de valores: o bem rotulado de mal; o mal mascarado de bem. Perdeu-se a
noção de que nossos atos e escolhas refletem sobre os outros, podendo semear
alegria ou tristeza, luz ou sombra, vida ou morte.
E o pior de
tudo: se não reconheço meus pecados, como ser perdoado? Se considero meus erros
como atitudes “naturais” (aliás, todo
mundo faz...), atribuindo meus vícios a propensões genéticas, como me
arrepender e mudar de vida?
No Evangelho
de hoje, quatro amigos realizam notável esforço para conduzir o amigo
paralítico cara a cara com Jesus. Por certo, já conheciam do Nazareno a fama de
terapeuta e, movidos de fé e amizade, contavam com a cura do enfermo. Para sua
surpresa, no entanto, Jesus segue um roteiro diferente, dizendo: “Filho, teus
pecados são perdoados!” (Mc 2,5)
Conforme
anota o teólogo Hébert Roux, é a primeira vez que vemos Jesus a perdoar pecados
de alguém, trazendo à luz do sol um novo aspecto da Boa Nova. E chama o
paralítico de “meu filho”! Segundo Roux, esta palavra não significa um
encorajamento banal, mas a acolhida de um pai para seu filho ferido pela culpa.
E uma acolhida assim reacende esperanças como brasas sob a cinza...
Aos olhos
humanos, nada aconteceu, pois o enfermo continua preso à sua maca. Só uma fé
profunda pode ir além das aparências. Os escribas, ao lado, condenam como
blasfêmia a frase de Jesus, pois só Deus tem o poder perdoar pecados. Será que
Jesus tem tal poder? Exatamente porque duvidam, eles condenam.
Jesus aceita
o desafio. Vai mostrar que pode curar o corpo, de modo visível, assim como cura
a alma de modo invisível. E logo o milagre vem confundir em definitivo a falta
de fé dos adversários. Jesus vem juntar ao perdão dos pecados a devolução da
mobilidade física, para espanto de todos. Claro, trata-se de um sinal: a cura
que se vê, confirma a cura que não se vê. Ergue-se o paralítico, carrega a sua
maca e deixa para trás os seus pecados.
É uma pena
que tantos pregadores fujam do binômio pecado/perdão... Pena que o precioso
sacramento da misericórdia – a confissão – seja praticamente esquecido... Pena
que não deixemos Jesus Cristo perdoar nossos pecados e mobilizar outra vez
nossos membros paralíticos...
Orai sem cessar: “Feliz aquele cuja culpa é cancelada!” (Sl 32,1)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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