Ele comia com os pecadores... (Mc
2,13-17)
Todos sabem que uma das imagens do
Reino de Deus é a mesa de um banquete. São Lucas registra a promessa de que os
servos fiéis se assentarão à mesa do festim, e o próprio Senhor os servirá (Lc
12,37). No Apocalipse, temos esta bem-aventurança: “Felizes os convidados para
a ceia nas núpcias do Cordeiro!” (Ap 19,9.)
Por seu lado, o famoso Ícone da
Trindade, de Roublev, retrata a família trinitária em volta de uma mesa
eucarística, onde o lado frontal do altar está aberto, como uma convocação a
mergulhar na vida divina e participar de sua plena comunhão. Ser um conviva de
Jesus é participar do seu banquete (em latim, convivium).
Os judeus do tempo de Jesus, no
entanto, haviam desenvolvido a tese de que era preciso merecer essa
participação. Só os justos – aqueles que cumpriam os 10 mandamentos e... os 613
preceitos! – teriam entrada no banquete de Deus. E tal participação incluía
longos rituais de ablução, estritos critérios de pureza em relação aos
alimentos, às vasilhas e, claro... aos convivas.
Que decepção quando vem o Messias e
se mistura à gentinha desclassificada, como nas bodas de Caná, bebendo com os
publicanos (como Mateus) e com as prostitutas (como Madalena). Até os
discípulos se espantam, à beira do poço de Jacó, ao flagrar Jesus em conversa
com uma mulher samaritana! E o Mestre vê-se obrigado a dizer aquilo que devia
ser óbvio: “Eu não vim para os justos, mas para os pecadores. Quem precisa de
médico não são os sadios, mas os que estão enfermos!” (Cf. Mc 2,17.)
Ainda hoje,
em nosso meio eclesial, há pessoas boas e honestas que imaginam uma espécie de
contabilidade espiritual, um “sistema de débitos e créditos”, segundo o qual o
céu deve ser merecido, conquistado a golpes de... boas obras. Depois de alguns
anos de sacrifícios e jejuns, esmolas e vigílias, estaremos em condição de
apresentar a Deus uma fatura e... cobrar nosso direito de entrar no céu...
Ledo engano!
O preço do banquete já foi previamente pago por Jesus quando morreu por nós no
Calvário. Diante de tal preço (cf. 1Cor 6,20), não há mérito nosso que se possa
transformar em direito adquirido. O festim do Cordeiro é puro dom, é graça,
nada custa. Ou não teria sido inaugurado por Dimas, o ladrão esperto, que antes
de morrer ainda roubou o céu, com um simples apelo à misericórdia do Senhor.
Algum
honesto há de protestar: “Então, de que adiantaram aqueles longos rosários
rezados de joelhos, sobre os grãos de milho? E todos aqueles pecados que,
saudosamente, deixei de cometer se, no fim, um ladrão se arrepende e inaugura o
Paraíso?”
Por certo, os
pecadores se alegram com esta Boa Nova...
Orai sem cessar: “Preparas uma mesa para mim...” (Sl 23,5)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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